
Palliative Care In Physiotherapy: Interventions For Pain Relief
Eliane Leal Vasquez1, José Carlos Molero Junior2
Endereço correspondente: elianevasquez@gmail.com
Publicação: 10/06/2025
DOI: 10.55703/27644006050113
RESUMO
Objetivo: Este estudo teve como objetivo investigar, por meio de revisão integrativa da literatura, as principais intervenções fisioterapêuticas empregadas para o alívio da dor em pacientes em cuidados paliativos. Método: Trata-se de uma revisão integrativa realizada em cinco bases científicas: PubMed, SciELO, LILACS, PEDro e Google Scholar. Foram incluídos estudos publicados entre 2015 e 2025, em português, inglês e espanhol, que abordassem intervenções fisioterapêuticas com foco no controle da dor em pacientes sob cuidados paliativos. Ao final do processo de triagem e análise, 40 estudos compuseram a amostra final. Resultados: As intervenções fisioterapêuticas mais recorrentes incluíram eletroterapia, terapias manuais, cinesioterapia adaptada, fisioterapia respiratória e práticas integrativas. A maioria dos estudos indicou melhora significativa no alívio da dor, associada à melhora funcional e psicossocial dos pacientes. Destacou-se também a importância da personalização das condutas e da atuação multiprofissional integrada. Conclusão: A fisioterapia desempenha um papel essencial no manejo da dor em cuidados paliativos, promovendo alívio sintomático, conforto e qualidade de vida. A adoção de intervenções baseadas em evidências e adaptadas ao perfil clínico do paciente é fundamental para um cuidado humanizado e eficaz.
Palavras-chave: Cuidados Paliativos; Fisioterapia; Dor; Alívio da Dor; Qualidade de Vida.
ABSTRACT
Objective: This study aimed to investigate, through an integrative literature review, the main physical therapy interventions used for pain relief in patients receiving palliative care.Method: An integrative review was conducted using five databases: PubMed, SciELO, LILACS, PEDro, and Google Scholar. Studies published between 2015 and 2025 in Portuguese, English, or Spanish that addressed physical therapy interventions for pain control in palliative care were included. After screening and analysis, 40 studies were selected for the final sample. Results: The most frequent physical therapy interventions included electrotherapy, manual therapy, adapted kinesiotherapy, respiratory physiotherapy, and integrative practices. Most studies reported significant pain reduction, along with improvements in patients’ functional and psychosocial conditions. The importance of individualized approaches and interdisciplinary teamwork was also highlighted. Conclusion: Physical therapy plays a key role in pain management in palliative care, providing symptom relief, comfort, and improved quality of life. The use of evidence-based and patient-centered interventions is essential for effective and compassionate care.
Keywords: Palliative Care; Physical Therapy; Pain; Pain Relief; Quality of Life.
INTRODUÇÃO
A dor é uma das experiências clínicas mais frequentes e devastadoras enfrentadas por pacientes em cuidados paliativos, afetando diretamente a funcionalidade física, o bem-estar psicológico, o equilíbrio emocional e a dignidade humana no final da vida. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 60 milhões de pessoas necessitam anualmente de cuidados paliativos em todo o mundo, sendo que a maioria apresenta dor moderada a intensa em algum momento da trajetória da doença crônica ou terminal (1). Essa dor pode ter origem nociceptiva, neuropática ou mista, resultando de processos inflamatórios, compressões nervosas, metástases ósseas, contraturas musculares ou lesões teciduais associadas à imobilidade prolongada (2,3).
Nesse contexto, os cuidados paliativos se estabelecem como uma abordagem multidisciplinar focada na prevenção e alívio do sofrimento por meio da identificação precoce, avaliação criteriosa e tratamento adequado da dor e de outros sintomas físicos, psicossociais e espirituais (4). A fisioterapia, como componente essencial desta equipe interdisciplinar, tem demonstrado papel significativo na gestão não farmacológica da dor, promovendo conforto, funcionalidade e qualidade de vida a partir de intervenções adaptadas às necessidades e limitações dos pacientes (5–7).
A atuação fisioterapêutica nos cuidados paliativos vai além da tradicional reabilitação. Ela compreende um conjunto de estratégias terapêuticas voltadas à promoção do bem-estar integral do paciente, utilizando recursos como cinesioterapia suave, mobilizações passivas, exercícios respiratórios, eletroanalgesia (TENS e FES), termoterapia, crioterapia, massagens, alongamentos, posicionamentos terapêuticos e, em alguns contextos, práticas integrativas como acupuntura e auriculoterapia (8–12). Essas técnicas, quando bem indicadas, favorecem o alívio da dor, o relaxamento muscular, a diminuição da ansiedade, a melhora do padrão do sono e a ampliação da interação social, mesmo nos estágios avançados da doença (13,14).
Estudos recentes demonstram que a inclusão sistemática do fisioterapeuta nas equipes de cuidados paliativos contribui significativamente para o controle da dor e de sintomas associados, como dispneia, fadiga, edema e constipação (15–17). A revisão de Lopes-Júnior et al. (1), por exemplo, demonstrou que intervenções fisioterapêuticas como massoterapia e relaxamento muscular progressivo, aplicadas em pacientes com câncer avançado, resultaram em redução importante dos escores de dor e melhora do humor e da qualidade do sono. De forma semelhante, Guimarães e Assis (2) reforçaram a eficácia da fisioterapia respiratória no manejo da dispneia e do desconforto torácico em pacientes em cuidados paliativos domiciliares.
Além dos efeitos fisiológicos diretos, a fisioterapia promove impactos psicossociais relevantes. A presença contínua do fisioterapeuta permite o desenvolvimento de vínculos terapêuticos, contribui para o fortalecimento da autoestima e resgata a autonomia do paciente em atividades simples, como sentar-se na beira da cama ou realizar movimentos voluntários com assistência mínima (18,19). Esse cuidado centrado no paciente e pautado no respeito à sua história de vida e às suas escolhas é um dos pilares da abordagem paliativa moderna (20).
Contudo, embora haja evidências crescentes sobre os benefícios da fisioterapia nos cuidados paliativos, ainda são notórias lacunas na literatura relacionadas à padronização das condutas, à formação específica dos profissionais e à definição de indicadores clínicos que possam guiar a tomada de decisão baseada em evidências (21–24). Além disso, a maioria dos estudos concentra-se em populações oncológicas, havendo escassez de investigações que abordem a atuação fisioterapêutica em pacientes com doenças neurodegenerativas, cardiovasculares e respiratórias crônicas em fase terminal (25–27).
Outro desafio relevante é a pouca integração entre os serviços de fisioterapia e as equipes paliativistas em ambientes hospitalares, ambulatoriais e domiciliares, o que compromete o acesso equitativo às intervenções fisioterapêuticas e, consequentemente, à qualidade dos cuidados ofertados (28,29). Por isso, torna-se urgente consolidar uma base de conhecimento robusta e sistematizada que fundamente a atuação do fisioterapeuta nesse cenário, ampliando a visibilidade e a efetividade de suas práticas.
Diante desse panorama, este artigo tem como objetivo investigar, por meio de uma revisão integrativa da literatura, as principais práticas e técnicas fisioterapêuticas utilizadas para o alívio da dor em pacientes inseridos em cuidados paliativos, com foco em evidências publicadas entre 2015 e 2025. Espera-se que os resultados desta revisão possam subsidiar a tomada de decisão clínica, fortalecer a atuação interdisciplinar e contribuir para o aperfeiçoamento das diretrizes assistenciais voltadas ao cuidado humanizado e individualizado de pacientes em terminalidade.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cuja finalidade é reunir, analisar criticamente e sintetizar evidências científicas sobre as intervenções fisioterapêuticas utilizadas para o alívio da dor em pacientes sob cuidados paliativos. Esse tipo de revisão é particularmente útil por permitir a inclusão de estudos com diferentes delineamentos metodológicos, oferecendo uma visão ampla e profunda do tema investigado. A condução do estudo seguiu as seis etapas propostas por Whittemore e Knafl (2005): identificação do problema de pesquisa; definição dos critérios de inclusão e exclusão; busca sistemática da literatura; avaliação dos estudos selecionados; análise e interpretação dos dados; e apresentação da síntese dos achados.
A questão norteadora foi elaborada com base na estratégia PICO adaptada para revisão integrativa: “Quais são as intervenções fisioterapêuticas eficazes no alívio da dor em pacientes em cuidados paliativos, segundo a literatura científica publicada entre 2015 e 2025?”. A busca dos estudos foi realizada nas bases de dados eletrônicas PubMed/MEDLINE, SciELO, LILACS, PEDro e Google Scholar, esta última utilizada para ampliar o alcance à literatura cinzenta. Os artigos selecionados deveriam estar publicados no período de janeiro de 2015 a maio de 2025, nos idiomas português, inglês ou espanhol.
Para a construção da estratégia de busca, foram utilizados descritores padronizados do DeCS/MeSH, combinados com operadores booleanos, tais como: “Cuidados Paliativos” OR “Palliative Care”, “Fisioterapia” OR “Physical Therapy Modalities”, “Dor” OR “Pain” OR “Pain Management”, “Alívio da Dor” OR “Pain Relief” e “Qualidade de Vida” OR “Quality of Life”. Esses termos foram combinados de acordo com a especificidade de cada base, utilizando expressões como (“Palliative Care”) AND (“Physical Therapy”) AND (“Pain”), entre outras variações.
Foram incluídos estudos originais, revisões sistemáticas, integrativas ou narrativas, estudos de caso e ensaios clínicos randomizados que abordassem de forma explícita a atuação fisioterapêutica voltada ao alívio da dor em pacientes em cuidados paliativos. Também foram aceitos estudos desenvolvidos com adultos e idosos de ambos os sexos, em contextos hospitalares, ambulatoriais ou domiciliares. Por outro lado, foram excluídos artigos duplicados entre bases, trabalhos com foco exclusivo em reabilitação convencional sem menção a cuidados paliativos, estudos restritos à atuação médica ou farmacológica, artigos indisponíveis na íntegra e aqueles que abordavam apenas dor aguda pós-operatória ou pacientes pediátricos fora do contexto de terminalidade.
A busca inicial resultou em 112 artigos. Após leitura de títulos e resumos, 65 foram selecionados para leitura na íntegra. Ao final do processo, 40 estudos preencheram integralmente os critérios de elegibilidade e compuseram a amostra final desta revisão. A seleção dos artigos foi realizada de forma independente por dois pesquisadores. Em casos de discordância, um terceiro avaliador foi consultado para decisão por consenso. As informações extraídas de cada estudo foram organizadas em uma tabela com os seguintes campos: autores, ano de publicação, tipo de estudo, população investigada, intervenções fisioterapêuticas aplicadas e principais resultados relacionados ao alívio da dor.
Por fim, os dados foram analisados qualitativamente, com abordagem descritiva. As intervenções foram agrupadas por similaridade de técnica e finalidade terapêutica, permitindo a identificação de padrões, categorias temáticas e lacunas na produção científica. Essa sistematização subsidiou a construção de uma análise crítica e fundamentada sobre a atuação da fisioterapia no controle da dor em cuidados paliativos, com vistas a oferecer subsídios práticos e teóricos para a atuação profissional qualificada e humanizada.
RESULTADOS
A análise dos 40 estudos selecionados revelou um panorama abrangente sobre as principais intervenções fisioterapêuticas voltadas ao alívio da dor em pacientes sob cuidados paliativos. Os trabalhos revisados apresentaram desenhos metodológicos variados, incluindo revisões integrativas e sistemáticas, ensaios clínicos, estudos observacionais, estudos de caso e revisões narrativas, refletindo a complexidade e diversidade do tema.
A maioria dos estudos (n=22; 55%) foi conduzida no Brasil, o que evidencia a crescente produção nacional voltada ao campo da fisioterapia paliativa. Outros países representados incluíram Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Portugal e Argentina, indicando um interesse global pela atuação interdisciplinar no manejo da dor não farmacológica em contextos de terminalidade. Quanto ao ambiente assistencial, prevaleceram os contextos domiciliar (n=17) e hospitalar (n=13), seguidos pelos cenários ambulatoriais e mistos.
Em relação ao perfil clínico dos pacientes, a maior parte dos estudos teve como foco indivíduos com câncer avançado (n=31), mas também foram encontrados artigos abordando doenças neurodegenerativas como ELA e Alzheimer (n=6), além de casos de insuficiência cardíaca (n=2) e DPOC em estágio terminal (n=1). Todos os estudos analisaram intervenções com objetivo explícito de promover o alívio da dor, embora muitas delas também abordassem sintomas secundários como dispneia, fadiga, ansiedade e distúrbios do sono.
As abordagens fisioterapêuticas mais empregadas e com maior respaldo na literatura foram agrupadas em cinco categorias principais: eletroterapia, terapias manuais, cinesioterapia, fisioterapia respiratória e práticas integrativas. A eletroterapia, notadamente a TENS, foi utilizada em 19 estudos e demonstrou eficácia especialmente em dores de origem neuropática, musculoesquelética e pós-operatória, com relatos consistentes de melhora do conforto físico, relaxamento e qualidade do sono. Terapias manuais, como massagem terapêutica, liberação miofascial e mobilizações passivas, foram descritas em 17 publicações, com bons resultados na analgesia imediata, redução de tensão muscular e alívio de ansiedade, além de promoverem acolhimento emocional ao paciente.
A cinesioterapia leve foi aplicada em 14 estudos, sendo indicada principalmente para preservar mobilidade e funcionalidade em pacientes acamados ou com risco de úlceras por pressão, demonstrando benefícios na redução de dor em repouso e durante o movimento. Já a fisioterapia respiratória esteve presente em 10 trabalhos, com destaque para técnicas como reexpansão pulmonar, higiene brônquica e respiração diafragmática, utilizadas para aliviar dor torácica e desconforto respiratório em pacientes com neoplasias pulmonares ou doenças crônicas. Por fim, sete estudos relataram o uso de práticas integrativas, como acupuntura, auriculoterapia e meditação guiada, destacando seu valor complementar à analgesia medicamentosa, com resultados positivos na redução de dor e sofrimento global.
A maioria dos estudos (n=34) relatou impacto positivo direto das intervenções fisioterapêuticas sobre a dor, enquanto seis destacaram efeitos parciais ou limitados, relacionados principalmente ao estágio clínico avançado dos pacientes ou dificuldades logísticas na continuidade do cuidado. Em 85% das publicações, os autores reforçaram a importância de condutas individualizadas, baseadas nas condições clínicas e preferências dos pacientes, com respeito à autonomia e aos princípios dos cuidados paliativos.
A seguir, a Tabela 1 sintetiza as principais categorias de intervenção encontradas na amostra estudada e seus efeitos mais frequentes no alívio da dor.
Tabela 1 – Principais intervenções fisioterapêuticas e seus efeitos no alívio da dor em cuidados paliativos (n = 40 estudos)
Categoria de intervenção | Frequência nos estudos | Efeitos observados |
Eletroterapia (ex: TENS, FES) | 19 estudos | Redução da dor neuropática e musculoesquelética; melhora do conforto e do sono |
Terapias manuais | 17 estudos | Analgesia imediata, relaxamento muscular, alívio de ansiedade e estresse |
Cinesioterapia leve/adaptada | 14 estudos | Redução da dor em movimento; preservação da mobilidade e prevenção de complicações |
Fisioterapia respiratória | 10 estudos | Alívio de dor torácica associada à dispneia; melhora da ventilação e conforto respiratório |
Práticas integrativas | 7 estudos | Complementação do manejo da dor; benefícios emocionais e psicossociais |
DISCUSSÃO
Os resultados desta revisão integrativa confirmam o papel fundamental da fisioterapia na abordagem da dor em cuidados paliativos, revelando um conjunto diversificado de intervenções com eficácia reconhecida na literatura. Técnicas como eletroterapia, terapias manuais, cinesioterapia e fisioterapia respiratória demonstraram ser eficazes na modulação da dor, melhora funcional e bem-estar psicossocial de pacientes com doenças avançadas. Estes achados são convergentes com a tendência global de valorização de abordagens interdisciplinares, centradas no paciente e pautadas em evidências.
A eletroterapia, especialmente a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), foi a técnica mais frequentemente descrita nos estudos analisados. Sua eficácia no controle da dor neuropática e musculoesquelética em pacientes paliativos tem sido amplamente respaldada por ensaios clínicos e revisões sistemáticas, como demonstrado por Lopes-Júnior et al. (1) e Castilho et al. (7). Essa modalidade oferece uma alternativa segura, de baixo custo e com mínimos efeitos adversos, o que a torna especialmente adequada para pacientes com tolerância reduzida a opioides ou em estágios avançados de fragilidade clínica.
As terapias manuais também se destacaram como recursos relevantes para o manejo da dor somática e do desconforto físico generalizado. Massagem terapêutica, mobilizações articulares e liberação miofascial não apenas contribuíram para a analgesia, como também proporcionaram alívio de sintomas associados, como ansiedade, tensão muscular e distúrbios do sono. Em diversos estudos, os efeitos positivos dessas técnicas estiveram intimamente relacionados à experiência subjetiva de acolhimento, toque terapêutico e escuta ativa, reforçando a importância da dimensão relacional nos cuidados paliativos (4,6,16).
A cinesioterapia adaptada foi indicada em pacientes com maior comprometimento funcional ou restrição ao leito, revelando impactos importantes na manutenção da amplitude de movimento, prevenção de contraturas e melhora da dor relacionada à imobilidade prolongada. Como observado em Guimarães e Assis (2) e Mota et al. (22), até mesmo pequenos movimentos passivos ou assistidos podem contribuir significativamente para o conforto físico e psicológico de pacientes terminais, sobretudo quando integrados a rotinas personalizadas de cuidado.
A fisioterapia respiratória, por sua vez, foi associada a benefícios no controle da dor torácica e dispneia, sintomas frequentes em pacientes com neoplasias pulmonares e doenças crônicas obstrutivas. Técnicas como respiração diafragmática, reexpansão pulmonar e higiene brônquica não apenas melhoram a função respiratória, como reduzem o esforço muscular e a dor ventilatória, favorecendo a oxigenação e promovendo relaxamento (15,26).
Um aspecto notável da presente revisão foi a recorrente valorização das práticas integrativas e complementares associadas à fisioterapia convencional. Técnicas como acupuntura, auriculoterapia e meditação guiada foram relatadas como eficazes na redução da dor e na melhoria do bem-estar emocional, reforçando o potencial dessas abordagens como aliadas no controle multidimensional do sofrimento (1,8,17). Contudo, observou-se que a disponibilidade desses recursos ainda é limitada na prática clínica cotidiana, sendo dependente da formação específica do profissional e da política institucional.
Apesar dos avanços, os resultados também revelaram lacunas importantes. A maioria dos estudos concentrou-se em populações oncológicas, com poucos dados disponíveis sobre o impacto da fisioterapia na dor de pacientes com doenças neurológicas, cardiovasculares ou pneumológicas em cuidados paliativos. Esse viés pode comprometer a generalização dos achados e evidencia a necessidade de ampliar a pesquisa em populações não oncológicas, que também enfrentam dor intensa e crônica no contexto de terminalidade (14,25,28).
Outra limitação relevante observada foi a escassez de protocolos padronizados e consensuais para a aplicação das técnicas fisioterapêuticas. A maioria das condutas analisadas foi descrita de forma individualizada, o que reforça a importância da personalização do cuidado, mas dificulta a replicação dos estudos e a consolidação de diretrizes clínicas baseadas em evidências robustas. Além disso, alguns estudos apontaram barreiras práticas à implementação das intervenções, como carga horária reduzida dos fisioterapeutas, ausência de equipe multiprofissional estruturada e resistência institucional à incorporação de terapias complementares (21,29,30).
Por fim, destaca-se que os benefícios da fisioterapia em cuidados paliativos vão além da redução da dor. A atuação fisioterapêutica possibilita a ressignificação da vivência do adoecimento, promove autonomia funcional, facilita o vínculo terapêutico e contribui para que o processo de morrer ocorra com mais dignidade, conforto e respeito aos valores do paciente (5,20,31). O cuidado paliativo, por definição, é uma prática ética, centrada no ser humano, e a fisioterapia, ao respeitar essa essência, torna-se uma ferramenta potente de alívio e presença no fim da vida.
CONCLUSÃO
A presente revisão integrativa permitiu identificar e sistematizar as principais intervenções fisioterapêuticas utilizadas para o alívio da dor em pacientes em cuidados paliativos, reforçando o papel essencial do fisioterapeuta na promoção da qualidade de vida em contextos de terminalidade. As evidências reunidas entre 2015 e 2025 demonstraram que técnicas como eletroterapia, terapias manuais, cinesioterapia adaptada, fisioterapia respiratória e práticas integrativas são eficazes na modulação da dor, além de impactarem positivamente outros sintomas associados, como dispneia, ansiedade e fadiga.
Entre os principais achados, destaca-se a versatilidade da eletroterapia na dor neuropática e musculoesquelética, bem como o efeito imediato das terapias manuais no alívio da tensão corporal e do sofrimento emocional. A cinesioterapia mostrou-se eficaz mesmo em pacientes com mobilidade comprometida, favorecendo o conforto e a prevenção de complicações secundárias. Já a fisioterapia respiratória se destacou como ferramenta fundamental em pacientes com dor torácica associada à dispneia, enquanto as abordagens integrativas complementaram o cuidado, atuando sobre dimensões mais sutis da dor e do sofrimento existencial.
Os dados analisados também evidenciaram desafios relevantes, como a concentração de estudos em contextos oncológicos, a escassez de protocolos padronizados e a limitação de acesso às práticas fisioterapêuticas em ambientes que não dispõem de equipes multiprofissionais integradas. Além disso, a atuação do fisioterapeuta ainda é subvalorizada em muitos serviços de saúde, especialmente no que tange à sua inserção sistemática nas equipes de cuidados paliativos.
Diante disso, é fundamental que as instituições de saúde reconheçam e incentivem a presença ativa da fisioterapia nos diversos níveis de cuidado paliativo, assegurando formação específica, estrutura adequada e integração interprofissional. Além disso, recomenda-se o desenvolvimento de novos estudos clínicos com metodologias mais robustas, abordando diferentes grupos populacionais e patologias além da oncologia, para consolidar diretrizes clínicas baseadas em evidências sólidas.
Conclui-se que a fisioterapia, ao atuar de forma ética, humanizada e personalizada, desempenha um papel estratégico no alívio da dor e na construção de um cuidado mais digno, sensível e integral para pacientes em fase avançada de vida. Sua contribuição transcende o campo biomecânico e amplia as possibilidades de acolhimento e suporte à dor total, conceito central nos cuidados paliativos.
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