REVISTA CIENTÍFICA IPEDSS: A CIÊNCIA A FAVOR DA SAÚDE E SOCIEDADE
ISSN 2764-4006 Publicação online
DOI 1055703
Volume 1. Número 2.
Petrolina, 2021.
ELABORAÇÃO DE MATERIAL EDUCATIVO NA PROMOÇÃO À SAÚDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Raniere Pereira Gonçalves¹, Caroline Jonas Rezaghi Ricomini Nunes² e Tatiany Cristine Silva³
Endereço correspondente: Raniere Pereira Gonçalves – Brasília, DF – Brazil – E-mail: ranifisio@gmail.com
Submissão: 7 de Dezembro, 2021 – Modificação: 17 de Dezembro, 2021 – Aceito: 20 de Dezembro, 2021
DOI: https://doi.org/10.55703/27644006010202
RESUMO
O estudo tem como objetivo relatar a experiência de uma residente, na aplicação da metodologia do Arco de Maguerez, dentro de uma unidade básica de saúde, utilizando da criação de material educativo como ferramenta de qualificação do processo de trabalho. O método utilizado, baseado no Arco de Maguerez, foi a elaboração de uma cartilha como material educativo para qualificar o primeiro atendimento do paciente com dor lombar. Observou-se como resultado a eficiência da utilização de medidas educativas na promoção à saúde. Assim, conclui-se que a utilização da metodologia ativa desenvolve as habilidades de resolução de problemas ampliando os conhecimentos nas práticas em saúde e observa-se que os métodos de assistência e educação em saúde possibilitam o aumento da autonomia no cuidado e na prevenção à saúde.
Palavras-chave: Dor Lombar; Atenção Primária à Saúde; Promoção da Saúde; Arco de Maguerez.
INTRODUÇÃO
A Residência Multiprofissional em Saúde trata-se de um curso de educação em saúde referente a uma pós-graduação que tem como atributos primordiais o desempenho do trabalho em saúde, onde a teoria e a prática se complementam (1). É instituída pela Lei 11.129 de 30 de junho de 2005, com a definição de categoria de ensino de pós-graduação lato sensu, voltada para a educação em serviço e destinada às categorias profissionais que integram a área de saúde, com exceção da área médica, conforme Resolução CNS nº 287/1998(2). A Residência é composta por um regime de dedicação exclusiva e realizada sob supervisão docente-assistencial, de responsabilidade conjunta dos setores da educação e da saúde, cuja organização e funcionamento são divididos entre os dois ministérios responsáveis sendo eles o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério da Saúde (MS) (3).
A origem do Programa Saúde da Família (PSF), mais tarde convertido em Estratégia Saúde da Família (ESF), constituiu-se uma forma próspera de expansão e organização de equipes de APS (Atenção Primária à Saúde). Com a ESF, as equipes formadas por diversos profissionais passaram a efetuar atendimentos voltados à promoção, prevenção e reabilitação, os quais os usuários passaram a ser definidos e vinculados à equipe de acordo com o território pré-definido (4).
Conforme as normas e diretrizes da ESF competem ao profissional fisioterapeuta a elaboração de ações e estratégias, onde promova o fornecimento de serviços de saúde voltados não só para o tratamento e reabilitação, mas também a execução das atividades de controle dos agravos e lesões, prevenindo danos, promovendo a saúde como um todo, com intervenções de caráter individual, de grupos e da coletividade (5).
O Ministério da Saúde preconiza que a elaboração de um material educativo necessita ser cautelosa em relação ao vocabulário utilizado em seus conteúdos, voltado ao público o qual deseja alcançar. É relevante que a fala escrita seja clara, objetiva e em linguagem coloquial, adequada às particularidades da população alvo, como o nível de escolaridade, o analfabetismo funcional, e o conhecimento referente aos termos técnicos que geralmente não precisam estar presentes nestes materiais. Isto permite uma leitura leve e agradável, de fácil compreensão a qualquer indivíduo (6).
No caso do material educativo/pedagógico (cartilha) seja claro e de simples compreensão, o leitor absorve melhor o conteúdo e obtém um maior entendimento da mensagem proposta, o usuário após a compreensão do material estará apto a executar modificações de comportamentos e desenvolvimento de habilidades e competências, além de possibilitar a independência, empoderamento, melhor tomada de decisão e a percepção de que as suas atitudes influenciam na qualidade da sua saúde (7).
O Método do Arco, elaborado por Charles Maguerez é uma estrutura de atividade laboral que vem sendo bastante utilizado por profissionais do âmbito da saúde. Consequentemente, esse recurso tem sido adotado em projetos provenientes da prática profissional como os cursos de formação superior, pós-graduação e residências, com participação ativa de usuários na educação em saúde, visando também à promoção em saúde, com profissionais na qualificação e educação permanente, na formação e ensino e também no campo voltado à pesquisa (8-10).
O Arco de Charles Maguerez denomina-se em um método de ensino-aprendizagem onde o foco do desenvolvimento está na problematização. Consiste em cinco etapas as quais resultam com base na vivência social. São elas: 1) A observação da realidade; 2) Os pontos chaves; 3) A teorização; 4) As hipóteses de solução; 5) Aplicação à realidade (8,11).
O objetivo deste artigo é relatar a experiência vivenciada através da aplicabilidade do Método do Arco de Maguerez, onde o resultado da problematização está na educação e promoção à saúde de usuários das ESFs de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no Distrito Federal (DF), utilizando a confecção, elaboração e produção de cartilha educativa.
MÉTODOS
O presente estudo trata-se do relato de experiência de uma fisioterapeuta residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade (PRMSFC) da Escola Superior de Ciências da Saúde do Distrito Federal (ESCS), acerca da vivência da metodologia ativa, com base no método do Arco de Maguerez. A problematização se deu a respeito da observação da dificuldade de outros profissionais da ESF em orientar os pacientes com dor lombar, em crises agudas. O recurso utilizado para auxiliar os profissionais que compõem as ESF foi a criação de cartilhas educativas de fácil compreensão para serem distribuídas na primeira consulta com esses profissionais, facilitando a orientação. O material conta com imagens ilustrativas e intuitivas.
A construção do relato ocorreu entre os meses de setembro a novembro de 2021, período no qual a residente se encontrava na finalização do seu 2º ano de residência, inserida no ambiente assistencial.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
1º Etapa: Observação da realidade e elaboração da situação-problema
A primeira etapa do método do arco consiste em observar a realidade em que se está inserida. E através desta observação, identificar os problemas e suas possíveis soluções. Para executar a observação da realidade, utilizou-se apenas da observação das queixas dos pacientes que se direcionaram à equipe de fisioterapia da Unidade Básica de Saúde (UBS) para atendimentos individuais ou coletivos, quando estes compareciam presencialmente para marcar atendimento ou quando eram feitos contatos telefônicos para agendamento.
Os pacientes que chegam para a equipe com dor lombar são em geral pacientes com dores crônicas e agudas, e que em geral após passar pelo primeiro atendimento com médico ou com enfermeiro nas suas ESFs, fizeram uso apenas de medidas farmacológicas e medicamentosas para aliviar o processo de dor, porém ainda se encontram com dor exacerbada e não realizaram nenhuma medida não farmacológica domiciliar para aliviar seu processo álgico. De acordo com a situação-problema observada, constatou-se a necessidade de construção de um material educativo de fácil compreensão que pudesse auxiliar os outros profissionais de saúde (como uma ferramenta) para orientar os pacientes quanto às diversas formas e medidas para minimizar a dor lombar, seja em crise aguda quanto crônica, ou como forma de prevenção e promoção à saúde de pacientes com histórico de dor.
2º Etapa: Exposição dos pontos-chaves
Nesta etapa, podem-se identificar os pontos-chaves que foram observados para a discussão da resolução da problematização encontrada. São eles:
- Pacientes que chegavam ao atendimento fisioterapêutico e continuavam com dor sem nenhuma outra informação adicional de cuidado;
- Longos períodos de espera para atendimento fisioterapêutico, devido a alta demanda da população;
- Observou-se que um matriciamento seria ideal com as ESFs, porém alguns profissionais preferiam alguma medida que pudesse ser consultada quando necessitasse;
- Dificuldade da população em guardar as informações que recebe, dificuldade de frisar as orientações e de memorizar;
- Complexidade para visualizar as posturas sugeridas e adequadas.
Pensando em uma maneira onde o instrumento escolhido fosse capaz de sanar as observações dos pontos-chaves e da problematização, escolheu-se pela elaboração e confecção de material educativo de fácil manuseio, de visualização e compreensão adequada para solucionar a questão em si.
3º Etapa: A teorização
Nesta terceira etapa, dispomos de discussões de como se daria a confecção do instrumento escolhido para a implantação do arco, no caso a construção do material educativo que abordasse as demandas observadas.
A teorização para a construção das cartilhas baseou-se em referências e materiais fidedignos e confiáveis para compor de forma simples e objetiva o material que seria entregue às equipes para serem redistribuídos entre os pacientes com a dor lombar.
A Dor lombar é determinada como sendo uma dor que provoca uma tensão ou rigidez muscular, geralmente localizada na região lombar baixa, próxima a região glútea, podendo percorrer até o joelho. Classifica-se em duas: específica e não específica. A específica está relacionada a causas e condições clínicas determinadas, quando se consegue identificar o mecanismo que está causando a dor, enquanto a não específica está relacionada quando não se identifica claramente o que está gerando a dor (12).
As origens e fatores da dor lombar são vários, classificando as como multifatoriais como exemplos podem citar: inflamações localizadas, complicações com as vísceras e órgãos internos, patologias e alterações articulares, principalmente em quadril e sacroilíacas, modificações mecânicas associadas aos processos repetitivos e estressantes decorrentes das situações laborativas e desportivas (13).
Na cartilha construída reunimos alguns dos vários tipos de recursos que podemos utilizar sem uma orientação vigilante do profissional fisioterapeuta, podendo o autocuidado ser realizado em casa pelo próprio paciente, sendo ele o coautor responsável pelo seu cuidado inicial.
4º Etapa: A elaboração da solução
Nesta etapa, optou-se por realizar a criação da cartilha propriamente dita, a construção da proposta de solução para a situação-problema identificada, medidas não farmacológicas e alternativas para controle da dor lombar. Para a criação da cartilha utilizou-se do programa online gratuito para construção e criação de infográficos o CANVA®, ele é editor de texto gráfico que possibilita produzir diversos materiais (14). A cartilha construída foi baseada como referência nas cartilhas da escola de coluna do INTO- Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (15) e na cartilha do TRT 6ª (Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região) (16).
5º Etapa: Aplicação à realidade
Para desenvolver a quinta e última etapa do Arco de Maguerez, dispomos inicialmente de 100 cartilhas elaboradas pela fisioterapeuta residente responsável pela implementação do método do Arco, as cartilhas foram elaboradas, impressas e distribuídas sem custo adicional a qualquer membro das equipes de saúde, ou a qualquer paciente que viesse a adquiri-la. Além disso, o arquivo criado para a impressão das cartilhas foi compartilhado com as ESFs e com o NASF (Núcleo Ampliado em Saúde da Família) em Drive, para serem utilizadas em situações futuras quando os impressos acabarem.
Como forma de prevenção e promoção à saúde, as cartilhas podem ser utilizadas em grupos com pacientes com dores crônicas, nas visitas domiciliares, aos pacientes e aos seus cuidadores, em palestras de qualidade de vida e alguns outros momentos que a equipe julgar necessária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a utilização das cartilhas pelas ESF´s, pode-se observar que os pacientes com dor lombar que procuravam a equipe de fisioterapia do NASF desta UBS, já estavam orientados quanto aos primeiros cuidados nas crises de dor, a dor geralmente já estava controlada e isto era importante para o paciente, sendo que o mesmo não ficava desassistido no período de espera, que compreendia o atendimento do médico ou enfermeiro da equipe até ser atendido pela equipe de fisioterapia. Outro benefício que poderá ser alcançado pelas orientações da cartilha é a redução do tempo em seu processo de reabilitação, se recuperando mais rápido e dando maior fluidez à lista de espera.
A implementação do método do Arco de Maguerez, realizado em todas as suas etapas, proporcionou à educanda uma formação mais realista, voltada às competências desenvolvidas através da metodologia da problematização, onde a pesquisadora da aplicação do Arco pode utilizar-se das práticas da metodologia ativa e engrandecer o seu conceito de formação de práticas em saúde. O profissional que utiliza na sua vivência prática, todas as fases do arco, está preparado para enfrentar as dificuldades e obstáculos que surgirão no decorrer de sua vida profissional.
A partir das habilidades e atividades desenvolvidas observou-se que os métodos de assistência e educação em saúde, como ferramenta de trabalho e realizada de forma clara, objetiva e compreensiva, possibilita o aumento da autonomia no cuidado e na prevenção à saúde, permitindo assim a identificação dos problemas e a resolução de maneira mais efetiva e ativa.
REFERÊNCIAS
1. Silva, LB. Residência Multiprofissional em Saúde no Brasil: alguns aspectos da trajetória histórica. Revista Katálysis [periódico da internet] 2018, v. 21, n. 01 [citado em 2021 2 Outubro ] , pp. 200-209. Disponível em: Link.
2. Brasil, Lei no 11.129, de 30 de junho de 2005. Institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem; cria o Conselho Nacional da Juventude – CNJ e a Secretaria Nacional de Juventude; altera as Leis nos 10.683, de 28 de maio de 2003, e 10.429, de 24 de abril de 2002; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 01 jul.2005. Disponível em: Link. [Acessado 2 Outubro 2021].
3. Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 287 de 08 de outubro de 1998. Relaciona 14 (quatorze) categorias profissionais de saúde de nível superior para fins de atuação no CNS. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 08 out. 1998. Disponível em: Link. [Acesso em: 02 de Outubro de 2021].
4. Sousa, MF. e Hamann, EM. Programa Saúde da Família no Brasil: uma agenda incompleta. Ciência & Saúde Coletiva [periódico da internet]. 2009 [Acessado 2 Outubro 2021], v. 14, suppl 1, pp. 1325-1335. Disponível em: Link. Epub 08 Set 2009.
5. Brasil. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Atenção Primária e Promoção da Saúde/Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília: CONASS. 2011; 3:197.
6. Brasil, Ministério da Saúde. Elaboração de material didático impresso para programas de formação a distância: orientações aos autores. Brasília (DF):EAD/ENSP / FIOCRUZ ; 2005.
7. Serxner, S. How readability of material affects outcomes. J Vasc Nurs. 2000 Sep; 18(3): 97-101.
8. Bordenave, JD, Pereira, AM. Estratégias de ensino aprendizagem. 25ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2004. p.15-21.
9. Alvim, NAT. e Ferreira, MA. Perspectiva problematizadora da educação popular em saúde e a enfermagem. Texto & Contexto – Enfermagem [periódico da internet]. 2007 [Acessado 2 Outubro 2021], v. 16, n. 2, pp. 315-319. Disponível em: Link. Epub 13 Set 2007.
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15. Escola de coluna do INTO- Instituto de Nacional de Traumatologia e Ortopedia – Cartilha Coluna. [Acesso em 18 de outubro de 2021]. Disponível em: Link
16. E-book: Dicas de postura para o Dia a Dia. Seção de Fisioterapia do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região. [Acesso em 18 de outubro de 2021]. Disponível em: Link
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