Artigo Científico

INTEGRAÇÃO DA MEDICINA ANTI-AGING NA ODONTOLOGIA ESTÉTICA: POTENCIAIS BENEFÍCIOS PARA A HARMONIZAÇÃO OROFACIAL Volume 5. Número 1. 2025 e-ISSN 2764-4006 DOI 1055703 
INTEGRAÇÃO DA MEDICINA ANTI-AGING NA ODONTOLOGIA ESTÉTICA: POTENCIAIS BENEFÍCIOS PARA A HARMONIZAÇÃO OROFACIAL

Integration of Anti-Aging Medicine in Aesthetic Dentistry: Potential Benefits for Orofacial Harmonization

Antônio Fernando Gentil

 


Endereço correspondente: odontdodc@gmail.com

Publicação: 24/09/2025

DOI: 10.55703/27644006050121

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RESUMO

A medicina anti-aging tem avançado significativamente no contexto da odontologia estética, ampliando o escopo de atuação da harmonização orofacial por meio de técnicas regenerativas e biomateriais inovadores. O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão integrativa da literatura, com base em 20 artigos publicados entre 2015 e 2025, selecionados em bases de dados científicas reconhecidas, para avaliar os potenciais benefícios da integração da medicina anti-aging na odontologia estética. Os resultados demonstraram que o ácido hialurônico (HA) destaca-se pela sua capacidade de volumização imediata, hidratação e estímulo à regeneração tecidual, apresentando resultados superiores quando associado a terapias adjuvantes, como plasma rico em fatores de crescimento (PRGF) e ozônio. Os bioestimuladores de colágeno, como ácido poli-L-lático (PLLA) e hidroxiapatita de cálcio (CaHA), mostraram eficácia em induzir neocolagênese, aumentar a espessura dérmica e melhorar a elasticidade facial, consolidando-se como aliados da odontologia estética no combate ao envelhecimento. Apesar dos avanços, as limitações metodológicas identificadas, como amostras pequenas e heterogeneidade dos protocolos, apontam para a necessidade de estudos clínicos multicêntricos e padronizados. Conclui-se que a integração da medicina anti-aging na odontologia estética representa uma abordagem promissora, capaz de oferecer resultados estéticos e funcionais mais duradouros, alinhados à promoção de saúde, longevidade e qualidade de vida dos pacientes.

Palavras-chave: Anti-aging; Harmonização orofacial; Odontologia estética; Preenchedores dérmicos; Regeneração tecidual.

ABSTRACT

Anti-aging medicine has significantly advanced within the field of aesthetic dentistry, expanding the scope of orofacial harmonization through regenerative techniques and innovative biomaterials. The aim of this study was to conduct an integrative literature review, based on 20 articles published between 2015 and 2025, retrieved from recognized scientific databases, to evaluate the potential benefits of integrating anti-aging medicine into aesthetic dentistry. The results demonstrated that hyaluronic acid (HA) plays a central role due to its immediate volumizing capacity, hydration, and stimulation of tissue regeneration, showing superior outcomes when combined with adjunctive therapies such as platelet-rich growth factors (PRGF) and ozone. Collagen biostimulators, including poly-L-lactic acid (PLLA) and calcium hydroxyapatite (CaHA), proved effective in inducing neocollagenesis, increasing dermal thickness, and improving facial elasticity, consolidating their role as valuable tools in the fight against aging. Despite these advances, methodological limitations such as small sample sizes and heterogeneous protocols highlight the need for multicenter and standardized clinical trials. In conclusion, the integration of anti-aging medicine into aesthetic dentistry represents a promising approach, capable of providing more durable aesthetic and functional outcomes, aligned with the promotion of health, longevity, and patients’ quality of life.

Keywords: Aesthetic dentistry; Anti-aging; Dermal fillers; Orofacial harmonization; Tissue regeneration.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento facial é um processo multifatorial que envolve alterações progressivas nos tecidos moles, ósseos e dentários, impactando diretamente a estética e a função orofacial. Essas mudanças incluem reabsorção óssea, perda de colágeno e elastina, redistribuição de gordura, diminuição da tonicidade muscular e alterações periodontais e peri-implantares [1,2]. Tais modificações acarretam não apenas efeitos funcionais, mas também repercussões psicológicas e sociais, uma vez que a percepção de envelhecimento facial está intimamente relacionada à autoestima e à qualidade de vida [3,4]. Nesse cenário, a harmonização orofacial (HOF) surge como um conjunto de procedimentos estéticos e funcionais que visam restaurar a simetria, o equilíbrio e a jovialidade do rosto, integrando a odontologia às práticas de estética avançada [5,6].

Nos últimos anos, a odontologia estética passou a incorporar princípios da medicina anti-aging, buscando não apenas resultados imediatos, mas também intervenções capazes de estimular processos regenerativos e retardar os sinais do envelhecimento [7,8]. Substâncias como o ácido hialurônico (HA) e os bioestimuladores de colágeno (ex.: ácido poli-L-lático, hidroxiapatita de cálcio, policaprolactona) têm sido amplamente estudados por seu potencial de promover neocolagênese, aumentar a espessura dérmica, melhorar a elasticidade e proporcionar resultados duradouros [9,10]. Ensaios clínicos randomizados demonstraram que a aplicação do HA, isolado ou em combinação com plasma rico em fatores de crescimento, promove melhora significativa no volume e na estética interdental, ampliando as perspectivas para sua utilização em contextos odontológicos e estéticos [1,11,14].

Além disso, a literatura evidencia que o uso de bioestimuladores como o Rennova Elleva (PLLA) resulta em elevado grau de satisfação dos pacientes, com melhora de firmeza cutânea, efeito lifting e aumento da espessura dérmica, destacando-se como recurso promissor na harmonização orofacial [4]. Estudos laboratoriais recentes confirmam que as características morfológicas e químicas das partículas desses biomateriais influenciam diretamente sua integração tecidual, resposta inflamatória e perfil de segurança [2,15]. Contudo, complicações como nódulos e granulomas também têm sido relatadas, o que reforça a necessidade de critérios rigorosos de indicação, aplicação e acompanhamento [7].

A medicina anti-aging aplicada à odontologia estética extrapola a dimensão estética imediata e incorpora uma visão regenerativa, integrando abordagens inovadoras como a associação de HA ao ozônio, com efeitos anti-inflamatórios e cicatrizantes [9], e o uso de HA em terapia periodontal e peri-implantar, capaz de favorecer cicatrização e estabilidade tecidual [12,13]. Ensaios clínicos demonstraram que a aplicação adjuvante do HA em terapias periodontais melhora significativamente parâmetros clínicos e estéticos, reforçando o papel desse biomaterial na interface entre saúde oral e rejuvenescimento [10,14].

Revisões recentes consolidam que a HOF, enquanto campo interdisciplinar, encontra respaldo científico na integração com a medicina anti-aging, tanto na perspectiva de segurança quanto de eficácia clínica [5,6,16,19,20]. O desenvolvimento de novos protocolos de aplicação, como o “pan-facial layering” de preenchedores [17], e a condução de ensaios clínicos em rejuvenescimento do terço médio da face [18], reforçam a tendência crescente de estudos voltados à integração regenerativa e estética.

Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura, complementada por metanálise sempre que possível, a fim de avaliar os potenciais benefícios da integração da medicina anti-aging nos tratamentos estéticos odontológicos, com foco especial na harmonização orofacial. Busca-se reunir e analisar criticamente as evidências disponíveis a partir de 2015, destacando tanto os avanços quanto as lacunas do conhecimento, para oferecer suporte científico à prática clínica e às futuras pesquisas nessa área em expansão.

METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa da literatura, com possibilidade de metanálise sempre que os dados disponíveis apresentaram homogeneidade estatística. Para a condução do trabalho, foram seguidas as recomendações metodológicas propostas por Whittemore e Knafl, bem como as diretrizes do checklist PRISMA 2020, garantindo padronização, transparência e reprodutibilidade. A busca bibliográfica foi realizada entre agosto e setembro de 2025 nas bases de dados PubMed/MEDLINE, Embase, Web of Science, Scopus e LILACS/BVS. Complementarmente, foram consultados registros de ensaios clínicos na plataforma ClinicalTrials.gov, a fim de identificar evidências emergentes relacionadas ao tema. Para a pesquisa, foram utilizados descritores em inglês e português, combinados por operadores booleanos, incluindo termos como “anti-aging”, “antiage”, “rejuvenation”, “senescence”, “regenerative”, “dentistry”, “odontologia”, “orofacial”, “facial aesthetics”, “harmonization”, “hyaluronic acid”, “collagen biostimulator”, “botulinum toxin”, “filler”, “stem cell”, “platelet rich plasma” e “ozone therapy”.

Foram incluídos na revisão artigos publicados entre janeiro de 2015 e setembro de 2025, nos idiomas inglês, português ou espanhol, contemplando ensaios clínicos randomizados, estudos de coorte, pesquisas observacionais controladas, revisões sistemáticas e revisões narrativas robustas que abordassem a aplicação de substâncias ou técnicas com potencial anti-aging na odontologia estética ou harmonização orofacial. Como critérios de exclusão, foram descartados estudos exclusivamente in vitro ou em modelos animais, salvo quando apresentassem elevada relevância translacional, trabalhos duplicados entre bases de dados, publicações direcionadas a áreas não odontológicas sem aplicabilidade direta ao contexto orofacial e relatos de caso isolados sem análise estatística.

O processo de seleção dos estudos ocorreu em três etapas sucessivas: leitura de títulos e resumos para triagem inicial, análise integral dos textos potencialmente elegíveis e, por fim, aplicação dos critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos. Ao término dessa etapa, foram selecionados 20 artigos considerados adequados para compor a amostra final da revisão. Um fluxograma PRISMA foi elaborado para demonstrar visualmente as fases de identificação, triagem, elegibilidade e inclusão dos estudos.

A extração dos dados foi conduzida de forma padronizada, registrando-se informações sobre autores, ano de publicação, país, tipo de estudo, população e tamanho amostral, intervenções realizadas (substâncias aplicadas, protocolos, doses e técnicas), desfechos avaliados, principais resultados e limitações apontadas pelos próprios autores. Para assegurar o rigor da análise, a qualidade metodológica dos ensaios clínicos foi avaliada por meio de critérios baseados na ferramenta Cochrane Risk of Bias, enquanto revisões sistemáticas foram examinadas com base no checklist AMSTAR 2. Sempre que possível, os dados quantitativos extraídos foram sintetizados e submetidos à análise estatística para composição de metanálises, com cálculo de diferenças médias, risco relativo e avaliação de heterogeneidade pelo índice I².

RESULTADOS

A busca sistemática resultou em 20 artigos que atenderam aos critérios de inclusão e compuseram a amostra final desta revisão integrativa. Os estudos selecionados contemplam ensaios clínicos randomizados, estudos observacionais, revisões narrativas e sistemáticas, além de registros de ensaios clínicos em andamento. A síntese narrativa evidencia que as intervenções baseadas na medicina anti-aging, especialmente o uso do ácido hialurônico (HA) e dos bioestimuladores de colágeno (PLLA, CaHA, PCL), representam os principais recursos terapêuticos aplicados à odontologia estética e à harmonização orofacial.

Ensaios clínicos randomizados demonstraram que a aplicação de HA, isoladamente ou associado ao plasma rico em fatores de crescimento (PRGF), promoveu resultados estéticos superiores na regeneração da papila interdental, com ganhos volumétricos e satisfação do paciente [1]. De forma semelhante, outros estudos mostraram que a associação de HA a terapias regenerativas, como ozônio [9] e protocolos adjuvantes em periodontia [10,14], potencializa o efeito cicatricial, anti-inflamatório e estético, consolidando o papel desse biomaterial como agente anti-aging no contexto odontológico. Revisões sistemáticas confirmaram que o HA é amplamente utilizado em diferentes especialidades odontológicas, com impacto direto na estética facial e peri-implantar [3,12,13].

Os bioestimuladores de colágeno se destacaram como recursos promissores, uma vez que além de atuarem na volumização imediata, estimulam neocolagênese e promovem melhora da elasticidade cutânea. Estudos clínicos com Rennova Elleva (PLLA) demonstraram resultados significativos na espessura dérmica, firmeza e efeito lifting, aliados a elevados índices de satisfação [4]. Revisões narrativas reforçaram a importância de compreender as propriedades físicas e químicas desses biomateriais [2,5,6,15,16], enquanto estudos transversais alertaram para possíveis complicações, como nódulos e granulomas [7], reforçando a necessidade de protocolos de segurança bem definidos.

No campo das tendências emergentes, destacam-se os registros de ensaios clínicos em andamento sobre novas técnicas de aplicação de HA, como o “pan-facial layering” [17], e intervenções voltadas ao rejuvenescimento do terço médio da face [18], os quais apontam para protocolos de aplicação mais abrangentes e personalizados. Revisões amplas sobre a harmonização orofacial corroboraram os benefícios clínicos e estéticos dos procedimentos, confirmando seu papel no combate aos sinais do envelhecimento facial [19,20].

De forma geral, a análise integrada dos estudos evidencia que a integração da medicina anti-aging à odontologia estética promove benefícios que vão além da estética imediata, incluindo efeitos regenerativos, maior durabilidade dos resultados e melhora global na qualidade de vida dos pacientes. Contudo, ainda são necessárias pesquisas clínicas de longo prazo, com maior padronização metodológica, para consolidar evidências robustas e possibilitar metanálises com maior poder estatístico.

Tabela 1. Características gerais dos estudos incluídos na revisão

Autores/Ano Tipo de estudo População/Amostra Intervenção principal
1 Bal A et al., 2023 Ensaio clínico randomizado 21 pacientes, 34 sítios HA vs HA + PRGF
2 Nobre MM et al., 2025 Estudo laboratorial Produtos comerciais Análise partículas CaHA
3 Maci M et al., 2024 Revisão sistemática BoNT-A + HA na odontologia
4 Bravo BSF et al., 2024 Estudo prospectivo 30 pacientes Rennova Elleva (PLLA)
5 JCM Júnior et al., 2023 Revisão narrativa Biostimuladores em HOF
6 Naka CH et al., 2024 Revisão narrativa Biostimuladores em rejuvenescimento
7 Ianhez M et al., 2024 Estudo transversal 80 pacientes Complicações com biostimuladores
8 Fisher SM et al., 2024 Revisão narrativa Biostimuladores como adjuvantes
9 Rosa A et al., 2024 Estudo clínico experimental 40 pacientes HA + ozônio
10 Atagün ÖS et al., 2025 Ensaio clínico 50 pacientes Membrana com HA 0,2%
11 Alkhatib MN et al., 2025 Ensaio clínico 45 pacientes Dermoabrasão + HA
12 López-Valverde N et al., 2025 Revisão narrativa HA em peri-implante
13 Alhashmi R et al., 2025 Revisão sistemática 25 artigos HA em odontologia
14 Olszewska-Czyz I et al., 2021 Ensaio clínico randomizado 60 pacientes HA em periodontia
15 Santos AR et al., 2023 Revisão integrativa Integração tecidual biostimuladores
16 Costa R et al., 2022 Revisão narrativa Bioestimuladores semipermanentes
17 NCT07063511, 2023 Registro de ensaio clínico Em andamento Pan-facial layering de HA
18 NCT05963204, 2023 Registro de ensaio clínico Em andamento Produtos para midface
19 Silva J et al., 2025 Revisão sistemática 40 estudos Resultados clínicos em HOF
20 Oliveira F et al., 2023 Revisão narrativa Estado da arte em HOF

Tabela 2. Principais desfechos e resultados dos estudos incluídos

Desfechos avaliados Principais resultados Limitações
1 Volume interdental, estética HA + PRGF superior ao HA isolado Amostra pequena
2 Morfologia de partículas Perfis diferentes entre produtos Estudo in vitro
3 Indicações clínicas BoNT-A+HA Eficácia consolidada Falta padronização
4 Espessura dérmica, satisfação Melhora significativa Seguimento curto
5 Papel de biostimuladores Benefícios relatados Revisão narrativa
6 Rejuvenescimento com biostimuladores Efeitos positivos Sem dados quantitativos
7 Complicações clínicas Nódulos e granulomas Sem controle
8 Uso adjuvante Potencial complementar Base narrativa
9 Efeito anti-inflamatório Redução de inflamação e dor Amostra restrita
10 Cicatrização periodontal Melhor integração tecidual Seguimento curto
11 Cicatrizes faciais HA melhorou textura Pequeno n
12 Peri-implante HA regenerativo Revisão narrativa
13 Aplicações odontológicas Benefícios amplos Heterogeneidade
14 Periodontia clínica Parâmetros melhoraram Amostra limitada
15 Integração celular biostimuladores Neocolagênese relatada Revisão integrativa
16 Bioestimuladores semipermanentes Boa eficácia estética Revisão narrativa
17 Midface rejuvenescimento Ensaio em andamento Sem resultados finais
18 Produtos faciais Avaliação em andamento Sem resultados finais
19 Harmonização orofacial Melhora estética e segurança Heterogeneidade
20 Estado da arte HOF Consolida técnicas Revisão narrativa

De modo integrado, os 20 estudos analisados demonstram que a incorporação de terapias anti-aging na odontologia estética e na harmonização orofacial apresenta evidências consistentes de benefícios clínicos e estéticos. Os ensaios clínicos randomizados [1,10,11,14] reforçam a eficácia do ácido hialurônico como agente central, não apenas pela volumização imediata, mas também pela sua capacidade regenerativa quando associado a terapias adjuvantes, como PRGF e ozônio [1,9]. Esse papel multifuncional do HA sugere que ele deve ser considerado uma ferramenta de primeira linha dentro dos protocolos estéticos integrativos.

Os bioestimuladores de colágeno, em especial o polilático (PLLA) e a hidroxiapatita de cálcio (CaHA), mostraram-se eficazes em estimular neocolagênese, aumentar a espessura dérmica e promover o chamado “efeito lifting” [4,5,6]. Estudos prospectivos e revisões [2,4,15,16] indicam que a resposta tecidual está diretamente relacionada à composição, à morfologia e à forma de aplicação desses biomateriais, tornando-os aliados importantes da medicina anti-aging aplicada à estética facial. Entretanto, a literatura também alerta para complicações potenciais, como granulomas e nódulos [7], destacando a necessidade de critérios de seleção rigorosos e capacitação adequada dos profissionais que executam os procedimentos.

As revisões sistemáticas e narrativas analisadas [3,12,13,19,20] consolidam que tanto o ácido hialurônico quanto os bioestimuladores ocupam papel central na harmonização orofacial contemporânea, legitimando a prática da odontologia estética no campo da estética avançada. Além disso, os registros de ensaios clínicos em andamento [17,18] demonstram que há uma expansão crescente da pesquisa científica voltada à aplicação de técnicas inovadoras, como o pan-facial layering de preenchedores, e ao rejuvenescimento global do terço médio da face, o que aponta para um futuro de protocolos mais abrangentes e personalizados.

Outro aspecto relevante identificado é a contribuição das terapias anti-aging para além da estética imediata. O uso de HA em contextos periodontais e peri-implantares [10,12,14] revela uma dimensão regenerativa que extrapola a odontologia estética, ampliando o alcance da prática para o cuidado integral do paciente. Tais achados reforçam a noção de que a integração entre medicina anti-aging e odontologia estética não deve ser entendida apenas como busca por rejuvenescimento facial, mas também como estratégia de promoção de saúde bucal e melhoria global da qualidade de vida.

Assim, os resultados desta revisão integrativa sugerem que a medicina anti-aging aplicada à odontologia estética constitui uma abordagem promissora, baseada em evidências clínicas e laboratoriais que sustentam sua eficácia e segurança. Os benefícios incluem desde a restauração de papilas interdentais e melhoria estética de cicatrizes faciais até ganhos funcionais em tecidos periodontais e peri-implantares. Entretanto, apesar das evidências positivas, as limitações metodológicas observadas em parte dos estudos, como tamanhos amostrais reduzidos, ausência de seguimento de longo prazo e heterogeneidade nos protocolos, reforçam a necessidade de ensaios clínicos multicêntricos, padronizados e de maior robustez estatística.

Portanto, a análise global dos artigos incluídos evidencia que a integração da medicina anti-aging na odontologia estética e harmonização orofacial é uma tendência crescente, com resultados clínicos promissores e respaldo científico em expansão. Essa integração aponta não apenas para um avanço estético, mas também para uma transformação conceitual na prática odontológica, que passa a contemplar, de forma mais ampla, os princípios da regeneração, da longevidade e da humanização do cuidado em saúde.

DISCUSSÃO

A presente revisão integrativa evidenciou que a integração da medicina anti-aging na odontologia estética, com destaque para a harmonização orofacial, representa uma tendência consolidada e sustentada por evidências clínicas e laboratoriais. Os resultados encontrados confirmam que as principais substâncias aplicadas nesse contexto, o ácido hialurônico (HA) e os bioestimuladores de colágeno (PLLA, CaHA e PCL), possuem não apenas efeito estético imediato, mas também impacto regenerativo, modulando processos biológicos associados ao envelhecimento.

O ácido hialurônico demonstrou benefícios significativos em ensaios clínicos randomizados, atuando tanto na volumização de tecidos quanto na regeneração e cicatrização [1,10,11,14]. Sua ação está relacionada à capacidade de atrair moléculas de água e estimular fibroblastos, resultando em maior hidratação, espessura dérmica e elasticidade cutânea. Quando combinado a terapias adjuvantes, como o plasma rico em fatores de crescimento (PRGF) e o ozônio, seu efeito anti-inflamatório e cicatricial foi potencializado, com resultados superiores na regeneração da papila interdental e na estabilidade periodontal [1,9,12]. Essa versatilidade reforça o papel do HA como um biomaterial-chave não apenas para a estética facial, mas também para a saúde dos tecidos de suporte odontológicos.

Os bioestimuladores de colágeno apresentaram resultados expressivos na indução de neocolagênese, com evidências de melhora progressiva da firmeza cutânea e da espessura dérmica, além da restauração do contorno facial [4,5,6]. Diferentemente do HA, cujo efeito é mais imediato, os bioestimuladores apresentam resposta gradual e cumulativa, refletindo o princípio central da medicina anti-aging de atuar nos mecanismos celulares do envelhecimento. Estudos prospectivos com Rennova Elleva (PLLA) mostraram alto índice de satisfação dos pacientes, efeito lifting e melhora clínica sustentada [4]. No entanto, a literatura também registra complicações, como nódulos e granulomas [7], o que evidencia a necessidade de treinamento técnico adequado, protocolos padronizados e seleção criteriosa dos pacientes.

Outro ponto relevante diz respeito à integração da prática odontológica com técnicas tradicionalmente associadas à dermatologia e à medicina estética. Revisões sistemáticas confirmam a expansão do papel do cirurgião-dentista na aplicação de toxina botulínica e preenchedores faciais, legitimando a odontologia estética como campo de atuação interdisciplinar [3,19,20]. Essa ampliação de escopo dialoga com a filosofia da medicina anti-aging, ao propor não apenas a reversão de sinais faciais, mas também a promoção da longevidade tecidual e a preservação funcional da face.

A análise crítica dos estudos também revela lacunas importantes. A maior parte das publicações é composta por revisões narrativas ou sistemáticas com heterogeneidade metodológica [5,6,13,16,19,20]. Muitos ensaios clínicos apresentam amostras pequenas, curto período de seguimento e ausência de padronização em protocolos de aplicação [1,10,11,14]. Ademais, poucos estudos exploram desfechos de longo prazo ou mensurações objetivas de parâmetros biológicos relacionados ao envelhecimento, como marcadores de colágeno ou elastina. Ensaios clínicos em andamento [17,18] prometem ampliar a base de evidências com protocolos inovadores, como o pan-facial layering e novas formulações de bioestimuladores, mas ainda carecem de resultados publicados.

As implicações clínicas dos achados são amplas. Para a odontologia estética, a adoção de princípios anti-aging possibilita a oferta de tratamentos mais completos, que não apenas corrigem imperfeições pontuais, mas promovem rejuvenescimento global e duradouro. A associação de HA, bioestimuladores e terapias adjuvantes configura um arsenal terapêutico capaz de atender à crescente demanda por procedimentos estéticos menos invasivos e de longa duração. Além disso, a aplicação de biomateriais com propriedades regenerativas em periodontia e implantodontia amplia o alcance clínico da abordagem, permitindo integrar estética e saúde tecidual em um mesmo plano terapêutico [10,12,14].

Apesar do cenário promissor, é necessário enfatizar que a consolidação dessa integração exige maior produção de estudos clínicos multicêntricos, randomizados e com seguimento estendido. Também se faz necessária a criação de diretrizes clínicas específicas para a odontologia estética, contemplando protocolos de segurança, critérios de seleção de pacientes e monitoramento de complicações. Somente com essa padronização será possível transformar os achados atuais em recomendações robustas de prática clínica.

Assim, a discussão dos resultados evidencia que a integração da medicina anti-aging na odontologia estética não deve ser compreendida apenas como um avanço técnico, mas como uma mudança paradigmática, em que o cuidado orofacial transcende a estética e passa a incorporar os princípios da regeneração, da funcionalidade e da promoção da longevidade. Essa abordagem amplia o papel da odontologia no contexto interdisciplinar da saúde, posicionando-a como protagonista no atendimento das demandas de uma população cada vez mais interessada em envelhecer com qualidade, saúde e estética preservadas.

CONCLUSÃO

A presente revisão integrativa demonstrou que a integração da medicina anti-aging à odontologia estética e à harmonização orofacial constitui uma abordagem inovadora, respaldada por evidências clínicas e laboratoriais que destacam seu potencial regenerativo e estético. Intervenções com ácido hialurônico, bioestimuladores de colágeno e terapias adjuvantes, como PRGF e ozônio, mostraram resultados consistentes em melhorar volume, firmeza, elasticidade e cicatrização tecidual, proporcionando benefícios que vão além da estética imediata e alcançam dimensões funcionais e psicológicas.

Os achados reforçam que a adoção desses recursos não apenas atende à crescente demanda social por rejuvenescimento facial, mas também contribui para a promoção da saúde oral e da qualidade de vida, consolidando a odontologia como área estratégica dentro do campo interdisciplinar da medicina estética. No entanto, limitações metodológicas ainda persistem, como tamanhos amostrais reduzidos, heterogeneidade dos protocolos e escassez de ensaios clínicos de longo prazo, o que limita a robustez das conclusões e a possibilidade de metanálises com maior poder estatístico.

Assim, recomenda-se que futuras pesquisas sejam conduzidas com delineamentos mais robustos, multicêntricos e padronizados, de forma a consolidar protocolos seguros e eficazes que possam orientar a prática clínica. A integração da medicina anti-aging na odontologia estética deve ser compreendida não apenas como tendência, mas como oportunidade de transformar o cuidado orofacial, unindo ciência, estética e regeneração tecidual em uma abordagem centrada no paciente e voltada para a longevidade saudável.

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