INTERVENÇÕES RÁPIDAS EM PARADAS CARDÍACAS: MELHORES PRÁTICAS E INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
Rapid Interventions in Cardiac Arrest: Best Practices and Technological Innovations
Márcio Soares da Silva Sobral1, Alessandra Aparecida Rodrigues2, Andressa Carine Kretschmer3, Candissa Silva da Silva4, Felipe Matheus Sant’Anna Aragão5, Iapunira Catarina SantAnna Aragão6, Leandro Donato Ribeiro7, Míriam Nascimento de Assis8, Priscila Gomes de Mello9, Randolph Miguel Machado Salazar10, Uilter Goulart de Oliveira11, Vanessa Maria Gonçalves de Souza12
Endereço correspondente: sobralmarcio1981@gmail.com
Publicação: 30/09/2024
DOI: 10.55703/27644006040201
RESUMO
Introdução: A parada cardiorrespiratória (PCR) é uma emergência médica grave, com altas taxas de mortalidade, especialmente em cenários extra-hospitalares. Intervenções rápidas, como o uso de desfibriladores automáticos externos (DEA) e a ressuscitação cardiopulmonar extracorpórea (ECPR), são essenciais para aumentar as chances de sobrevivência. A pandemia de COVID-19 trouxe novos desafios, exigindo adaptações nos protocolos de ressuscitação. Objetivo: Revisar as principais intervenções no manejo da PCR, com foco no uso de DEA e ECPR, além de analisar os impactos da pandemia de COVID-19 nos protocolos de ressuscitação. Metodologia: Uma revisão integrativa da literatura foi realizada nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science, Lilacs e SciELO, abrangendo o período de 2010 a 2024. Foram incluídos 19 estudos que abordavam intervenções no manejo da PCR, analisados qualitativamente. Resultados: A revisão indicou que compressões torácicas de alta qualidade e o uso precoce de DEA aumentam as taxas de retorno à circulação espontânea (ROSC) e sobrevivência, com variações entre 10% e 30%. A ECPR mostrou-se eficaz em aumentar a sobrevida em até 30%, especialmente em ambientes hospitalares, embora seu uso extra-hospitalar enfrente desafios logísticos. A pandemia de COVID-19 exigiu adaptações nos protocolos, o que impactou negativamente as taxas de sobrevivência, principalmente em cenários extra-hospitalares. Conclusão: O uso de DEA e ECPR é fundamental para melhorar as taxas de sobrevivência na PCR, mas desafios logísticos e as adaptações causadas pela pandemia destacam a necessidade de novas soluções tecnológicas e treinamento contínuo.
Descritores: Parada Cardiorrespiratória; Ressuscitação Cardiopulmonar; Desfibrilador Externo Automático; Ressuscitação Extracorpórea.
ABSTRACT:
Introduction: Cardiac arrest (CA) is a severe medical emergency with high mortality rates, especially in out-of-hospital settings. Rapid interventions, such as the use of automated external defibrillators (AED) and extracorporeal cardiopulmonary resuscitation (ECPR), are essential to increase the chances of survival. The COVID-19 pandemic has introduced new challenges, requiring adaptations to resuscitation protocols. Objective: To review the main interventions in the management of CA, focusing on the use of AED and ECPR, and to analyze the impacts of the COVID-19 pandemic on resuscitation protocols. Methodology: An integrative literature review was conducted using the PubMed, Scopus, Web of Science, Lilacs, and SciELO databases, covering the period from 2010 to 2024. A total of 19 studies addressing interventions in CA management were included and qualitatively analyzed. Results: The review indicated that high-quality chest compressions and early AED use increase rates of return of spontaneous circulation (ROSC) and survival, with variations between 10% and 30%. ECPR was shown to be effective in increasing survival rates by up to 30%, particularly in hospital settings, though its use in out-of-hospital scenarios faces logistical challenges. The COVID-19 pandemic required adaptations to resuscitation protocols, which negatively impacted survival rates, particularly in out-of-hospital settings. Conclusion: The use of AED and ECPR is crucial for improving survival rates in CA; however, logistical challenges and pandemic-related adaptations highlight the need for new technological solutions and ongoing training.
Keywords: Cardiac Arrest, Cardiopulmonary Resuscitation, Automated External Defibrillator, Extracorporeal Resuscitation.
INTRODUÇÃO
A parada cardiorrespiratória (PCR) é uma das emergências médicas mais graves, caracterizada pela cessação súbita das funções respiratória e circulatória. Estima-se que, globalmente, a PCR seja responsável por milhões de mortes anuais, com uma taxa de sobrevivência que raramente ultrapassa 10% em casos extra-hospitalares (1). No Brasil, a situação é ainda mais alarmante, com uma taxa de sobrevivência de apenas 2,6% após uma PCR extra-hospitalar, refletindo a carência de intervenções rápidas e treinamento especializado (2).
A resposta imediata à PCR é crucial para aumentar as chances de retorno à circulação espontânea (ROSC) e minimizar os danos neurológicos. As diretrizes da American Heart Association (AHA), atualizadas em 2020, reforçam que compressões torácicas de alta qualidade, realizadas com uma frequência de 100 a 120 compressões por minuto e uma profundidade mínima de 5 cm, são determinantes para manter a perfusão durante a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) (3). A realização precoce da desfibrilação, especialmente em casos de fibrilação ventricular ou taquicardia ventricular sem pulso, aumenta significativamente as chances de sobrevivência. O uso de desfibriladores automáticos externos (DEA) é apontado como uma intervenção crítica, sendo que a desfibrilação realizada nos primeiros 3 a 5 minutos após a PCR pode aumentar a taxa de sobrevivência em até 70% (4).
No entanto, mesmo com intervenções básicas eficazes, como as compressões torácicas e o uso de DEA, muitas vezes os pacientes não respondem à RCP convencional. Nesse contexto, técnicas avançadas, como a ressuscitação cardiopulmonar extracorpórea (ECPR), têm ganhado destaque como uma alternativa viável para pacientes com PCR refratária. A ECPR envolve o uso de tecnologia extracorpórea para fornecer suporte circulatório e respiratório durante a PCR, substituindo as funções cardíacas e pulmonares temporariamente. Estudos demonstram que a ECPR pode aumentar a taxa de sobrevida em até 30%, especialmente em ambientes hospitalares que dispõem de infraestrutura adequada e equipes altamente treinadas para realizar o procedimento (5). No entanto, sua implementação fora do ambiente hospitalar ainda enfrenta barreiras significativas, como a complexidade logística e a necessidade de recursos avançados (6).
A pandemia de COVID-19 trouxe desafios adicionais ao manejo da PCR. As mudanças necessárias nos protocolos de RCP, destinadas a minimizar o risco de contaminação dos profissionais de saúde, impactaram a forma como as intervenções são realizadas. A obrigatoriedade do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e a priorização de compressões torácicas sobre procedimentos que geram aerossóis, como a ventilação boca-a-boca, tornaram-se imperativos para garantir a segurança das equipes de emergência (7). Estudos indicam que, apesar da adaptação dos protocolos, a eficiência do atendimento à PCR foi afetada, resultando em desafios adicionais no controle das taxas de sobrevivência (8). Além disso, a pandemia evidenciou a necessidade de novas soluções tecnológicas que possam integrar a segurança dos socorristas com intervenções eficazes.
O treinamento contínuo das equipes de saúde é essencial para garantir a aplicação correta das manobras de RCP e o uso apropriado das novas tecnologias. A capacitação prática por meio de simulações tem sido amplamente adotada para aumentar a prontidão das equipes em situações de emergência, garantindo que intervenções adequadas sejam realizadas rapidamente. O papel dos times de resposta rápida (TRR) em ambientes hospitalares também é notável, pois contribuem para a identificação precoce de sinais de deterioração clínica, o que permite uma intervenção imediata antes que ocorra a PCR (9). Estudos demonstram que a implementação de TRR pode reduzir significativamente a incidência de PCR, melhorando a sobrevivência hospitalar e a qualidade dos cuidados prestados aos pacientes (10).
Neste artigo, revisaremos as principais práticas e inovações tecnológicas no manejo de PCR, com ênfase no uso de DEA e ECPR, além de discutir os impactos da pandemia de COVID-19 nos protocolos de ressuscitação e a importância do treinamento contínuo das equipes de saúde e dos socorristas leigos. A análise busca fornecer uma visão abrangente das práticas baseadas em evidências que podem otimizar o atendimento à PCR e melhorar os desfechos clínicos para os pacientes.
METODOLOGIA
Este estudo utilizou a abordagem de revisão integrativa da literatura para investigar as principais inovações e práticas no manejo de paradas cardiorrespiratórias (PCR), com ênfase em intervenções como o uso de desfibriladores automáticos externos (DEA) e a ressuscitação cardiopulmonar extracorpórea (ECPR). A revisão integrativa foi escolhida por permitir a síntese de evidências científicas sobre o tema, proporcionando uma análise ampla e fundamentada para a elaboração de recomendações baseadas em evidências.
Foram incluídos artigos publicados em inglês, português e espanhol, disponíveis em texto completo, que abordassem diretamente as intervenções e inovações no manejo de PCR, especialmente em relação ao uso de DEA e ECPR, além dos impactos da pandemia de COVID-19 nos protocolos de ressuscitação. O período de busca abrangeu publicações entre 2010 e 2024, selecionando estudos experimentais, observacionais, revisões sistemáticas, metanálises e diretrizes clínicas.
Os critérios de exclusão foram definidos para eliminar estudos que não apresentassem dados quantitativos ou qualitativos relevantes, artigos sem revisão por pares, estudos com amostras limitadas ou com foco em outras emergências médicas que não estivessem diretamente relacionadas à PCR. Revisões teóricas ou artigos de opinião também foram excluídos.
A busca bibliográfica foi realizada nas seguintes bases de dados: PubMed, Scopus, Web of Science, Lilacs e SciELO. As palavras-chave utilizadas incluíram: “parada cardiorrespiratória” (cardiac arrest), “ressuscitação cardiopulmonar” (cardiopulmonary resuscitation, CPR), “desfibrilador externo automático” (automated external defibrillator, AED), “ressuscitação extracorpórea” (extracorporeal cardiopulmonary resuscitation, ECPR), “sobrevivência” (survival), e “COVID-19”. Além disso, foram utilizados operadores booleanos (AND, OR) para ampliar a combinação de termos e garantir a recuperação de estudos relevantes.
A seleção dos estudos foi realizada em duas etapas. Primeiramente, os títulos e resumos dos artigos recuperados nas bases de dados foram analisados por dois revisores independentes, que verificaram se os estudos atendiam aos critérios de inclusão. Na segunda etapa, os artigos selecionados tiveram seus textos completos lidos e analisados criticamente pelos revisores, para garantir a relevância e a qualidade metodológica. Em caso de discordância entre os revisores, um terceiro revisor foi consultado para tomar a decisão final sobre a inclusão do estudo.
Após a seleção dos artigos, os dados foram extraídos e organizados em uma planilha de Excel, contendo informações sobre o título do estudo, ano de publicação, autores, tipo de estudo, população-alvo, intervenções analisadas, principais resultados e conclusões. A análise dos dados foi feita de maneira qualitativa, com ênfase nas intervenções de RCP, DEA e ECPR, bem como nas modificações introduzidas nos protocolos de PCR devido à pandemia de COVID-19.
Os resultados foram agrupados em categorias temáticas relacionadas às práticas de RCP, uso de DEA, ECPR, e às adaptações nos protocolos de PCR em resposta à COVID-19. Os principais desfechos analisados incluíram as taxas de sobrevivência, o retorno à circulação espontânea (ROSC), e a qualidade da recuperação neurológica dos pacientes.
A síntese dos resultados foi realizada por meio de uma análise descritiva dos estudos incluídos, permitindo uma avaliação comparativa das diferentes intervenções abordadas. As evidências foram sintetizadas e organizadas para fornecer uma visão abrangente das melhores práticas no manejo de PCR, com ênfase nos impactos das inovações tecnológicas e das adaptações causadas pela pandemia. Além disso, foram destacadas as lacunas existentes na literatura e as áreas que necessitam de maior investigação.
Por se tratar de uma revisão integrativa da literatura, este estudo não envolveu contato direto com pacientes, não sendo necessário obter a aprovação de um comitê de ética em pesquisa. No entanto, todas as diretrizes éticas relacionadas à integridade científica e à citação correta das fontes foram seguidas rigorosamente.
RESULTADOS
Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, um total de 19 estudos mais aderentes ao tema foi incluído nesta revisão integrativa. Os estudos selecionados foram publicados entre 2010 e 2024, abrangendo uma variedade de metodologias, como ensaios clínicos, revisões sistemáticas, diretrizes clínicas e estudos observacionais. A análise dos estudos permitiu a identificação de três principais áreas temáticas: intervenções durante a RCP, uso de tecnologias no manejo da PCR, e impactos da pandemia de COVID-19 nos protocolos de RCP.
Intervenções durante a RCP: Compressões Torácicas e DEA
Os estudos revisados destacam a importância das compressões torácicas de alta qualidade como a base para o sucesso da ressuscitação cardiopulmonar (RCP). A maioria dos estudos confirmou que a realização de compressões com frequência de 100 a 120 compressões por minuto e uma profundidade mínima de 5 cm aumenta significativamente as chances de retorno à circulação espontânea (ROSC) (1,3). Além disso, a desfibrilação precoce, por meio de desfibriladores automáticos externos (DEA), foi apontada como uma intervenção crítica para melhorar as taxas de sobrevivência, especialmente em casos de fibrilação ventricular. Estudos mostram que a desfibrilação realizada nos primeiros 3 a 5 minutos após a PCR pode aumentar a sobrevida em até 70% (4).
Os dados dos estudos também indicaram que o treinamento contínuo de equipes de saúde e leigos no uso de DEA resulta em maior taxa de sucesso na aplicação dessas tecnologias, além de melhorar o tempo de resposta em ambientes extra-hospitalares (2,5). A capacitação adequada permitiu que as compressões torácicas fossem realizadas de forma mais eficaz, aumentando as taxas de ROSC e de sobrevivência com recuperação neurológica favorável.
Uso da Ressuscitação Cardiopulmonar Extracorpórea (ECPR)
A ressuscitação cardiopulmonar extracorpórea (ECPR) foi avaliada em diversos estudos como uma intervenção avançada para pacientes que não respondem à RCP convencional. A análise dos dados revelou que a ECPR pode aumentar a sobrevida em até 30%, principalmente em ambientes hospitalares com infraestrutura adequada e equipes treinadas (5,6). A ECPR demonstrou eficácia especialmente em pacientes jovens com PCR refratária, que apresentam maior probabilidade de sobrevivência com recuperação neurológica favorável quando a técnica é aplicada precocemente.
No entanto, os estudos também apontaram desafios significativos na implementação da ECPR em ambientes extra-hospitalares. As principais barreiras identificadas incluem a necessidade de recursos avançados, como dispositivos de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO), e a complexidade logística envolvida na realização do procedimento fora do ambiente hospitalar. Esses fatores limitam a aplicação da ECPR a centros de excelência e hospitais de grande porte (6).
Impactos da Pandemia de COVID-19 nos Protocolos de RCP
A pandemia de COVID-19 trouxe mudanças significativas nos protocolos de ressuscitação, com o objetivo de proteger os profissionais de saúde e minimizar a disseminação do vírus durante as manobras de RCP. A maioria dos estudos revisados relatou a adaptação dos protocolos para priorizar as compressões torácicas e minimizar procedimentos que gerem aerossóis, como a ventilação boca-a-boca e a intubação traqueal (7). O uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) tornou-se uma prática obrigatória durante as manobras de RCP em pacientes suspeitos ou confirmados com COVID-19.
Os resultados também indicam que a adaptação dos protocolos, embora necessária, resultou em desafios adicionais, como o aumento do tempo de resposta para iniciar as manobras de RCP e a dificuldade em manter a qualidade das compressões torácicas enquanto se utiliza EPIs completos (8). Esses fatores contribuíram para uma leve queda nas taxas de sobrevivência durante a pandemia, especialmente em casos extra-hospitalares, onde os tempos de resposta foram prolongados.
Taxas de Sobrevivência e Recuperação Neurológica
Em relação às taxas de sobrevivência, os estudos revisados indicam que as intervenções de RCP, incluindo o uso de DEA e ECPR, resultaram em taxas de sobrevivência que variam entre 10% e 30%, dependendo do tempo de resposta, da aplicação das manobras de ressuscitação e do uso de tecnologias avançadas (1,4,5). Pacientes que receberam intervenções rápidas, especialmente desfibrilação precoce, apresentaram maiores chances de recuperação neurológica sem déficits significativos.
No entanto, os estudos também apontam que a recuperação neurológica depende não apenas da rapidez das intervenções, mas também da qualidade das manobras e da disponibilidade de suporte pós-ressuscitação em ambientes hospitalares. A implementação de times de resposta rápida (TRR) em hospitais demonstrou reduzir significativamente as taxas de PCR intra-hospitalares, resultando em melhores desfechos clínicos para os pacientes (9).
Lacunas Identificadas
Apesar dos avanços tecnológicos e da implementação de novos protocolos, a revisão identificou algumas lacunas na literatura. Estudos futuros são necessários para avaliar o impacto de tecnologias emergentes, como a integração de dispositivos de feedback de compressão torácica e inteligência artificial, na melhoria dos resultados de RCP. Além disso, há uma necessidade de maior investigação sobre a viabilidade da ECPR em cenários extra-hospitalares e sobre como os sistemas de saúde podem se preparar melhor para implementar essa técnica em larga escala (6,10).
DISCUSSÃO
Os resultados desta revisão integrativa demonstram que intervenções rápidas e baseadas em evidências são fundamentais para melhorar os desfechos de pacientes que sofrem parada cardiorrespiratória (PCR). As tecnologias emergentes, como o desfibrilador automático externo (DEA) e a ressuscitação cardiopulmonar extracorpórea (ECPR), têm desempenhado um papel essencial no aumento das taxas de sobrevivência, especialmente quando utilizadas precocemente e em ambientes hospitalares bem equipados. No entanto, apesar dos avanços, ainda existem desafios significativos na aplicação de intervenções avançadas, especialmente em cenários extra-hospitalares.
Importância das Compressões Torácicas de Alta Qualidade e Uso de DEA
A literatura revisada reforça que as compressões torácicas de alta qualidade continuam sendo a base do sucesso da ressuscitação cardiopulmonar (RCP). A aplicação de compressões com frequência entre 100 e 120 por minuto, com uma profundidade mínima de 5 cm, tem mostrado aumentar significativamente as chances de retorno à circulação espontânea (ROSC) (1,3). Isso é consistente com as diretrizes atuais da American Heart Association (AHA), que enfatizam a importância de manter a perfusão durante as manobras de RCP.
Também, o uso precoce de desfibriladores automáticos externos (DEA) foi identificado como uma intervenção crítica para melhorar os desfechos em casos de fibrilação ventricular ou taquicardia ventricular sem pulso. Os estudos revisados confirmaram que a desfibrilação realizada dentro dos primeiros 3 a 5 minutos após a PCR pode aumentar as taxas de sobrevivência em até 70% (4). No entanto, um desafio significativo apontado foi a necessidade de garantir que mais desfibriladores estejam disponíveis em locais públicos, uma vez que a maioria das PCRs extra-hospitalares ocorre fora do ambiente hospitalar. O tempo até a intervenção é frequentemente o fator limitante nesses casos, e o aumento da disponibilidade de DEA, juntamente com o treinamento de leigos, pode ajudar a mitigar esse problema (5).
Ressuscitação Cardiopulmonar Extracorpórea (ECPR): Avanços e Desafios
A ECPR é apresentada como uma inovação promissora para pacientes que não respondem à RCP convencional. A literatura revisada mostrou que, quando realizada em centros hospitalares com infraestrutura adequada, a ECPR pode aumentar a sobrevivência em até 30%, especialmente em pacientes mais jovens e sem comorbidades significativas (6). A capacidade da ECPR de fornecer suporte circulatório temporário enquanto as causas da PCR são tratadas oferece uma nova esperança para os pacientes que anteriormente teriam poucas chances de sobrevivência.
Contudo, a implementação da ECPR fora de ambientes hospitalares permanece um desafio. A necessidade de equipes altamente treinadas e de dispositivos de suporte, como a oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO), limita o uso dessa tecnologia a centros de excelência. A logística envolvida na mobilização de recursos para a realização de ECPR extra-hospitalar tem sido um obstáculo significativo, e os estudos revisados indicam que mais pesquisas são necessárias para explorar maneiras de expandir a disponibilidade dessa intervenção em um nível mais amplo (7).
Impacto da Pandemia de COVID-19 nos Protocolos de RCP
A pandemia de COVID-19 trouxe mudanças substanciais aos protocolos de ressuscitação, com ênfase na proteção dos profissionais de saúde. A maioria dos estudos revisados destacou a adaptação das diretrizes de RCP para priorizar as compressões torácicas e minimizar procedimentos que gerem aerossóis, como a ventilação boca-a-boca e a intubação (8). Embora essas adaptações tenham sido cruciais para minimizar a transmissão do vírus, elas também trouxeram desafios operacionais.
Os resultados da revisão indicam que, durante a pandemia, houve um aumento nos tempos de resposta para iniciar as manobras de RCP, especialmente em ambientes extra-hospitalares, onde as equipes de emergência precisaram adotar medidas adicionais de proteção antes de iniciar as intervenções. Isso resultou em uma leve queda nas taxas de sobrevivência em comparação com os períodos anteriores à pandemia. Esse achado sugere que, embora as adaptações dos protocolos tenham sido necessárias, é importante continuar desenvolvendo estratégias para mitigar o impacto dessas mudanças na qualidade da RCP (9).
Treinamento e Implementação de Times de Resposta Rápida (TRR)
O treinamento contínuo de equipes de saúde e leigos emergiu como uma estratégia crucial para garantir a eficácia das intervenções de RCP. Os estudos revisados mostraram que os programas de capacitação que integram simulações práticas aumentam significativamente a prontidão das equipes e melhoram os tempos de resposta, especialmente no uso de DEA e na realização de compressões torácicas de alta qualidade (2,9). Isso reforça a necessidade de investimentos contínuos em educação e treinamento para maximizar a eficácia das manobras de ressuscitação.
A implementação de times de resposta rápida (TRR) em ambientes hospitalares também foi destacada como uma prática eficaz para reduzir a incidência de PCR e melhorar as taxas de sobrevivência (10). Os TRRs permitem a identificação precoce de sinais de deterioração clínica, o que resulta em intervenções mais rápidas e eficazes. Os estudos indicam que a presença de TRRs contribui para a diminuição das paradas cardíacas intra-hospitalares e melhora os desfechos dos pacientes, especialmente em hospitais de grande porte.
Lacunas na Literatura e Oportunidades Futuras
Embora os avanços tecnológicos, como a ECPR e o uso de DEA, tenham demonstrado eficácia no aumento das taxas de sobrevivência, ainda existem lacunas significativas que precisam ser abordadas. Em particular, a aplicação da ECPR em cenários extra-hospitalares requer mais investigações. Estudos futuros devem se concentrar em explorar soluções para superar as barreiras logísticas e financeiras associadas à implementação dessa tecnologia em larga escala (6,7).
Outro aspecto importante identificado na revisão é a necessidade de aprimorar as tecnologias de feedback para as compressões torácicas. Dispositivos que fornecem feedback em tempo real sobre a qualidade das compressões, juntamente com algoritmos de inteligência artificial para monitorar os sinais vitais durante a RCP, podem melhorar a precisão das manobras e aumentar as chances de sobrevivência. Essas tecnologias, no entanto, ainda precisam ser validadas por estudos clínicos em larga escala.
CONCLUSÃO
Os resultados desta revisão integrativa reforçam a importância de intervenções rápidas e eficazes para aumentar as chances de sobrevivência em pacientes que sofrem parada cardiorrespiratória (PCR). As evidências demonstram que compressões torácicas de alta qualidade e o uso precoce de desfibriladores automáticos externos (DEA) são essenciais para melhorar as taxas de retorno à circulação espontânea (ROSC) e, consequentemente, as taxas de sobrevivência. A desfibrilação realizada nos primeiros minutos após a PCR continua sendo uma intervenção crucial, especialmente em ambientes extra-hospitalares, onde o tempo de resposta é um fator limitante.
A ressuscitação cardiopulmonar extracorpórea (ECPR) também mostrou ser uma abordagem promissora, com o potencial de aumentar as taxas de sobrevivência em pacientes que não respondem à RCP convencional, especialmente em ambientes hospitalares que dispõem da infraestrutura necessária. No entanto, desafios significativos, como a logística e a necessidade de recursos avançados, ainda limitam a aplicação da ECPR em cenários extra-hospitalares, sugerindo a necessidade de novas soluções tecnológicas e estratégias para expandir o uso dessa técnica.
A pandemia de COVID-19 trouxe desafios adicionais para o manejo da PCR, exigindo adaptações nos protocolos de ressuscitação. A implementação de medidas de proteção para os profissionais de saúde, embora necessária, teve um impacto negativo nas taxas de sobrevivência, especialmente nos ambientes extra-hospitalares. Esses achados ressaltam a necessidade de desenvolver soluções que equilibrem a segurança dos socorristas com a eficácia das intervenções.
O treinamento contínuo de profissionais de saúde e leigos emergiu como uma estratégia crucial para melhorar a prontidão e a qualidade das intervenções em casos de PCR. A implementação de times de resposta rápida (TRR) em hospitais tem sido eficaz na redução das paradas cardíacas intra-hospitalares, melhorando os desfechos dos pacientes.
Apesar dos avanços, lacunas permanecem na literatura, particularmente no que diz respeito à aplicação de tecnologias avançadas, como a ECPR, em contextos extra-hospitalares e no desenvolvimento de dispositivos de feedback em tempo real para as compressões torácicas. Pesquisas futuras devem focar em explorar soluções para superar essas barreiras e otimizar os cuidados prestados aos pacientes com PCR.
Portanto, conclui-se que as intervenções baseadas em evidências, aliadas a treinamentos contínuos e à integração de novas tecnologias, são essenciais para melhorar os resultados no manejo da PCR. No entanto, mais estudos são necessários para enfrentar os desafios logísticos e tecnológicos que ainda limitam a implementação de algumas dessas intervenções, especialmente em ambientes fora do hospital.
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