Artigo Científico

MANEJO CLÍNICO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: ABORDAGENS CARDIOLÓGICAS MODERNAS Volume 5. Número 1. 2025 e-ISSN 2764-4006 DOI 1055703 
MANEJO CLÍNICO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: ABORDAGENS CARDIOLÓGICAS MODERNAS

Clinical Management of Heart Failure: Modern Cardiological Approaches

Vanessa Paula da Silva Oliveira1, Daiany Andrade Brito2, Fernando Mota Sousa3, Francisca Erica Santos Andrade4, Juliana de Lima Brasileiro5, Ricardo Desidério Jesuino6


Endereço correspondente: vanessasilva@uniaraxa.edu.br

Publicação: 28/02/2025

DOI: 10.55703/27644006050107

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RESUMO

Introdução: A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome complexa caracterizada pela incapacidade do coração de fornecer fluxo sanguíneo adequado às necessidades metabólicas do organismo. Nos últimos anos, avanços terapêuticos e tecnológicos têm remodelado o manejo clínico da IC, reduzindo a mortalidade e hospitalizações. Objetivo: Revisar a literatura recente sobre as abordagens cardiológicas modernas no manejo clínico da insuficiência cardíaca, destacando terapias farmacológicas, estratégias de reabilitação e inovações tecnológicas. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com a seleção de artigos científicos publicados entre 2015 e 2024, indexados em bases de dados como PubMed, Scielo, Google Scholar e arXiv. Foram incluídos estudos que abordam intervenções terapêuticas modernas, excluindo artigos de opinião e revisões narrativas. Resultados: As evidências indicam que o uso de inibidores da neprilisina e do receptor de angiotensina (ARNI) e inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT2i) contribuem para uma significativa redução da mortalidade e das hospitalizações. A reabilitação cardiovascular melhora a capacidade funcional e a qualidade de vida, enquanto a inteligência artificial aprimora a predição de desfechos clínicos. Além disso, a bioengenharia celular surge como uma abordagem promissora para a regeneração do miocárdio. Conclusão: A evolução do manejo clínico da insuficiência cardíaca reflete o avanço da ciência e da tecnologia na cardiologia. No entanto, desafios como a padronização de algoritmos de inteligência artificial, a viabilidade da bioengenharia cardíaca e o acesso equitativo às terapias avançadas ainda precisam ser superados. Pesquisas contínuas são essenciais para garantir a efetividade e segurança dessas novas abordagens.

Palavras-chave: Insuficiência cardíaca; Terapia farmacológica; Reabilitação cardiovascular; Inteligência artificial; Bioengenharia cardíaca.

ABSTRACT

Introduction: Heart failure (HF) is a complex syndrome characterized by the heart’s inability to supply adequate blood flow to meet the body’s metabolic demands. In recent years, therapeutic and technological advances have reshaped the clinical management of HF, reducing mortality and hospitalizations. Objective: To review the recent literature on modern cardiological approaches in the clinical management of heart failure, highlighting pharmacological therapies, rehabilitation strategies, and technological innovations. Methods: This is an integrative literature review, selecting scientific articles published between 2015 and 2024, indexed in databases such as PubMed, Scielo, Google Scholar, and arXiv. Studies addressing modern therapeutic interventions were included, while opinion articles and narrative reviews were excluded. Results: Evidence indicates that neprilysin and angiotensin receptor inhibitors (ARNI) and sodium-glucose cotransporter-2 inhibitors (SGLT2i) significantly reduce mortality and hospitalizations. Cardiovascular rehabilitation improves functional capacity and quality of life, while artificial intelligence enhances clinical outcome prediction. Additionally, cardiac bioengineering emerges as a promising approach for myocardial regeneration. Conclusion: The evolution of heart failure management reflects the advancement of science and technology in cardiology. However, challenges such as standardizing artificial intelligence algorithms, ensuring the feasibility of cardiac bioengineering, and improving equitable access to advanced therapies remain. Ongoing research is essential to ensure the effectiveness and safety of these novel approaches.

Keywords: Heart failure; Pharmacological therapy; Cardiovascular rehabilitation; Artificial intelligence; Cardiac bioengineering.

INTRODUÇÃO

A insuficiência cardíaca (IC) representa um dos principais desafios de saúde pública globalmente, sendo responsável por elevados índices de morbidade e mortalidade. Trata-se de uma síndrome complexa caracterizada pela incapacidade do coração de bombear sangue de forma adequada para suprir as demandas metabólicas do organismo, resultando em sintomas como dispneia, fadiga e retenção de líquidos (1). No Brasil, a IC é uma das principais causas de hospitalizações, impactando significativamente os custos do sistema de saúde e a qualidade de vida dos pacientes (2).

Diante da crescente incidência e prevalência da IC, inovações terapêuticas e avanços tecnológicos vêm sendo implementados para otimizar o manejo clínico da doença. As diretrizes mais recentes enfatizam a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, incorporando terapias farmacológicas baseadas em evidências, estratégias de reabilitação cardiovascular e o uso de tecnologia para monitoramento remoto (3,4). O tratamento atual inclui classes medicamentosas como os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), betabloqueadores, antagonistas dos receptores de mineralocorticoides e, mais recentemente, os inibidores da neprilisina e do receptor de angiotensina (ARNI), bem como os inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT2) (5,6).

A inteligência artificial e a bioengenharia celular surgem como novas frentes para o tratamento da IC, prometendo avanços significativos na identificação precoce da doença e na recuperação funcional do miocárdio (7,8). A implantação de patches celulares alogênicos e a terapia com células-tronco têm sido objeto de estudos recentes, demonstrando potencial na regeneração do tecido cardíaco e na melhoria da função ventricular (9,10).

Dessa forma, este estudo tem como objetivo revisar a literatura atual sobre as abordagens modernas no manejo clínico da insuficiência cardíaca, com ênfase nas estratégias farmacológicas, terapias intervencionistas e novas tecnologias emergentes. Para isso, serão analisadas as principais diretrizes, estudos clínicos e avanços científicos publicados nos últimos anos, seguindo os critérios metodológicos estabelecidos para revisões integrativas da literatura (11,12).

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, fundamentada na seleção e análise crítica de artigos científicos publicados sobre o manejo clínico da insuficiência cardíaca. Foram incluídas publicações indexadas em bases de dados relevantes, como PubMed, Scielo, Google Scholar e arXiv, abrangendo estudos publicados a partir de 2015. Os critérios de inclusão adotados consideraram artigos que apresentavam abordagens farmacológicas, terapias intervencionistas e novas tecnologias aplicadas à insuficiência cardíaca. Foram excluídos trabalhos de opinião, cartas ao editor e estudos com metodologia indefinida. A coleta de dados foi realizada com base em descritores indexados no DeCS e MeSH, utilizando termos como “insuficiência cardíaca”, “terapias farmacológicas”, “reabilitação cardiovascular” e “inteligência artificial”. A análise dos artigos seguiu um critério sistematizado, classificando-os quanto ao tipo de estudo, principais achados e relevância para o tema proposto. Os resultados foram organizados em categorias temáticas para facilitar a compreensão das tendências terapêuticas e inovadoras no manejo da insuficiência cardíaca, garantindo uma abordagem crítica e atualizada baseada em evidências científicas. O estudo também seguiu as diretrizes PRISMA para revisões integrativas, garantindo rigor metodológico na seleção e avaliação dos dados.

RESULTADOS

Os estudos analisados apontam que o manejo clínico da insuficiência cardíaca evoluiu consideravelmente nos últimos anos, impulsionado por avanços farmacológicos, terapias intervencionistas e tecnologias inovadoras. A utilização de inibidores da neprilisina e do receptor de angiotensina (ARNI) mostrou uma redução significativa na taxa de mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida, conforme relatado por Fontana et al. (7). A terapia com inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT2), como a dapagliflozina, apresentou uma redução de 26% nas hospitalizações por descompensação da IC (5,6).

A reabilitação cardiovascular tem mostrado impacto positivo, com programas supervisionados proporcionando uma melhoria média de 20% na capacidade aeróbia e redução da fadiga (4). Tecnologias emergentes, como inteligência artificial, permitem maior precisão na predição de desfechos clínicos, com modelos preditivos atingindo até 85% de acurácia na identificação de risco de morte por IC (8).

Abordagem Benefícios Principais Referência
ARNI Redução da mortalidade e hospitalização (7)
SGLT2i Melhora na função cardíaca e redução da hospitalização (5,6)
Reabilitação Cardiovascular Aumento da capacidade funcional (4)
Inteligência Artificial Precisão elevada na predição de riscos (8)

 

Além dos tratamentos farmacológicos e reabilitação, avanços em bioengenharia têm mostrado promissoras contribuições na regeneração cardíaca. Pesquisas com patches celulares derivados de células-tronco demonstraram melhoria na função ventricular em modelos experimentais e em pacientes selecionados (9,10). A abordagem regenerativa, embora ainda em fase inicial de aplicação clínica, sugere que o reparo do miocárdio danificado pode ser uma realidade em um futuro próximo.

A inteligência artificial tem se consolidado como uma ferramenta fundamental na estratificação de risco e no suporte à decisão clínica, possibilitando intervenções precoces e personalizadas para pacientes com IC. Estudos demonstram que modelos baseados em aprendizado de máquina podem detectar padrões preditivos de descompensação cardíaca com alta sensibilidade, permitindo ajustes terapêuticos antes da progressão dos sintomas (8). Essa tecnologia pode ser integrada a dispositivos vestíveis e monitores domiciliares, ampliando o alcance da assistência médica e reduzindo a necessidade de hospitalizações recorrentes.

Dessa forma, os resultados desta revisão evidenciam que a combinação de terapias farmacológicas modernas, reabilitação cardiovascular estruturada e inovações tecnológicas como inteligência artificial e bioengenharia celular oferecem uma perspectiva otimista para o manejo da insuficiência cardíaca. A incorporação dessas abordagens pode não apenas melhorar a sobrevida dos pacientes, mas também proporcionar maior qualidade de vida e reduzir os custos associados à hospitalização e ao tratamento de longo prazo da IC.

DISCUSSÃO

Os achados desta revisão corroboram com a literatura recente ao demonstrar que o manejo da insuficiência cardíaca está em constante evolução, impulsionado pela combinação de terapias tradicionais e abordagens inovadoras. O impacto positivo dos inibidores de neprilisina e do receptor de angiotensina, aliado ao uso crescente dos inibidores do cotransportador sódio-glicose 2, reforça a necessidade de atualizar protocolos clínicos para otimizar os desfechos dos pacientes (5,7). Ainda, a reabilitação cardiovascular tem se consolidado como uma estratégia essencial para a melhora da qualidade de vida, reduzindo a progressão da doença e a necessidade de internações recorrentes (4).

A aplicação da inteligência artificial no diagnóstico e monitoramento da IC representa um avanço significativo, permitindo abordagens mais personalizadas e preditivas. No entanto, desafios como a padronização de algoritmos, a validação clínica em larga escala e a acessibilidade dessas tecnologias ainda precisam ser superados antes de sua implementação ampla (8). Também, novas terapias como a bioengenharia celular ainda enfrentam desafios éticos, financeiros e técnicos, sendo necessária uma regulamentação rigorosa antes da adoção clínica em larga escala.

CONCLUSÃO

A insuficiência cardíaca continua a ser um dos principais desafios da cardiologia moderna, demandando abordagens terapêuticas inovadoras e estratégias integradas para otimizar os desfechos clínicos. A revisão da literatura demonstrou que os avanços no manejo da IC têm sido impulsionados pelo desenvolvimento de novas classes farmacológicas, como os inibidores da neprilisina e do receptor de angiotensina (ARNI) e os inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT2i), que apresentaram benefícios significativos na redução da mortalidade e hospitalizações.

Além disso, a reabilitação cardiovascular consolidou-se como um componente essencial da terapêutica, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes e a redução da progressão da doença. A incorporação de tecnologias emergentes, como inteligência artificial e monitoramento remoto, tem o potencial de revolucionar a estratificação de risco, permitindo intervenções precoces e personalizadas.

Entretanto, desafios ainda persistem, incluindo a necessidade de maior acessibilidade a essas terapias, a padronização da aplicação da inteligência artificial na prática clínica e a viabilidade da bioengenharia celular para regeneração cardíaca. O futuro do manejo da IC dependerá de uma combinação equilibrada entre inovação científica, implementação eficaz de novas diretrizes clínicas e políticas públicas voltadas para a ampliação do acesso a tratamentos avançados.

Portanto, é imprescindível que estudos clínicos contínuos sejam conduzidos para validar a eficácia e segurança das novas intervenções, garantindo que a evolução no tratamento da insuficiência cardíaca resulte em benefícios tangíveis para os pacientes e para os sistemas de saúde.

REFERÊNCIAS

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