Artigo Científico

PSICOLOGIA SOCIAL E REDES SOCIAIS: IMPACTOS NO COMPORTAMENTO E BEM-ESTAR - Volume 4. Número 2. 2024 e-ISSN 2764-4006 DOI 1055703 

PSICOLOGIA SOCIAL E REDES SOCIAIS: IMPACTOS NO COMPORTAMENTO E BEM-ESTAR

Social Psychology and Social Media: Impacts on Behavior and Well-being

 

Almir de Melo Machado

Endereço correspondente: agenciamachado@gmail.com

Publicação: 15/10/2024

DOI: 10.55703/27644006040206

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RESUMO

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa que visa analisar os impactos das redes sociais no comportamento e bem-estar psicológico de diferentes populações, com foco especial em adolescentes e adultos. Foram analisados 18 artigos publicados entre 2014 e 2024, indexados em bases de dados como PubMed, SciELO, Web of Science, PsycInfo e Lilacs. Os resultados foram organizados em três categorias principais: 1) saúde mental dos adolescentes, 2) autoimagem e comportamento social dos adultos, e 3) intervenções psicossociais mediadas pelas redes sociais. Os achados indicam que, entre os adolescentes, o uso excessivo das redes sociais está associado ao aumento de transtornos como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. Em adultos, os efeitos incluem depressão, polarização social e deterioração da autoimagem. Por outro lado, as redes sociais também mostraram potencial positivo, quando utilizadas como ferramentas de intervenção psicossocial para promover suporte e adesão ao tratamento. A revisão destaca a importância de políticas educativas e intervenções regulatórias para maximizar os benefícios das redes e mitigar seus riscos. Conclui-se que o uso consciente e regulado das redes sociais é essencial para garantir o bem-estar psicológico e social dos usuários.

Palavras-chave: Redes sociais; Saúde mental; Psicologia social; Comportamento; Bem-estar.

 

Abstract

This study is an integrative review aimed at analyzing the impacts of social media on the behavior and psychological well-being of different populations, with a special focus on adolescents and adults. Eighteen articles published between 2014 and 2024, indexed in databases such as PubMed, SciELO, Web of Science, PsycInfo, and Lilacs, were analyzed. The results were organized into three main categories: 1) adolescents’ mental health, 2) adults’ self-image and social behavior, and 3) psychosocial interventions mediated by social media. The findings indicate that, among adolescents, excessive social media use is associated with an increase in disorders such as anxiety, depression, and eating disorders. In adults, the effects include depression, social polarization, and a deterioration in self-image. On the other hand, social media also showed positive potential when used as tools for psychosocial intervention to promote support and adherence to treatment. The review highlights the importance of educational policies and regulatory interventions to maximize the benefits of social media and mitigate its risks. It is concluded that conscious and regulated use of social media is essential to ensure the psychological and social well-being of users.

Keywords: Social media; Mental health; Social psychology; Behavior; Well-being.

 

INTROUÇÃO

As redes sociais digitais emergiram como um fenômeno sociocultural que alterou radicalmente as formas de comunicação e interação entre as pessoas. Com plataformas como Facebook, Instagram e TikTok dominando o cenário online, milhões de indivíduos em todo o mundo se conectam diariamente para compartilhar experiências, consumir informações e construir redes de relacionamento【2】【8】. Este novo ambiente virtual oferece oportunidades únicas para a construção de laços sociais e acesso a apoio social, especialmente em situações como coparentalidade, em que redes de suporte podem ser cruciais para facilitar a colaboração entre pais separados【1】.

Contudo, apesar dos benefícios, o uso massivo e desregulado dessas plataformas tem gerado consequências significativas, sobretudo para a saúde mental e o comportamento social dos usuários. Estudos indicam que adolescentes, por estarem em uma fase de intensa formação identitária e maior vulnerabilidade a influências externas, são particularmente suscetíveis aos efeitos negativos das redes sociais【2】【6】. Pesquisas sistemáticas demonstram que a exposição constante a imagens idealizadas e a comparações sociais, comuns nesses ambientes, está associada a um aumento nos níveis de ansiedade, depressão e insatisfação corporal【6】【14】. Por exemplo, adolescentes que passam longos períodos nas redes sociais tendem a internalizar padrões de beleza irrealistas, o que contribui para o desenvolvimento de transtornos alimentares e problemas de autoestima【2】【14】.

Ainda, o impacto das redes sociais não se limita ao público jovem. Adultos e idosos também sofrem os efeitos de uma exposição prolongada às plataformas digitais, como solidão, isolamento social e piora da autoimagem【3】【16】. Esses efeitos são agravados pela dinâmica dos algoritmos, que priorizam conteúdos altamente engajadores, muitas vezes de caráter polarizador, o que contribui para o aumento de tensões sociais e a disseminação de discursos de ódio【11】【15】. Em particular, o discurso de ódio online tem sido alvo de análise interdisciplinar por seu potencial de exacerbar preconceitos e reforçar estereótipos sociais prejudiciais【11】.

Por outro lado, as redes sociais também servem como importantes espaços de intervenção psicossocial, quando utilizadas de forma consciente e mediada por profissionais. Em contextos de saúde, por exemplo, as redes podem ser instrumentos para mobilizar redes de apoio formais e informais, auxiliando na adesão ao tratamento e na recuperação de pacientes com transtornos mentais【13】【16】. A análise de redes sociais aplicada à atenção primária em saúde tem demonstrado que a identificação e fortalecimento de laços interpessoais e interinstitucionais podem otimizar o acesso e a qualidade dos serviços prestados【13】.

Entretanto, para que essas potencialidades sejam plenamente exploradas, é necessário um entendimento profundo sobre como as redes sociais afetam os comportamentos humanos e os processos de formação de identidade. A psicologia social desempenha um papel crucial ao investigar as influências sociocognitivas das redes digitais, oferecendo bases teóricas e práticas para a criação de estratégias que promovam o uso saudável dessas plataformas e reduzam os riscos associados【12】【15】.

Diante da complexidade e da onipresença das redes sociais na vida contemporânea, torna-se essencial compreender seus impactos tanto positivos quanto negativos no comportamento e bem-estar dos indivíduos. A presente revisão objetiva mapear essas influências, com ênfase nos desafios e oportunidades que surgem para a psicologia social. Busca-se, assim, fornecer uma análise aprofundada sobre como as redes sociais moldam as dinâmicas sociais e psicológicas, oferecendo insights sobre intervenções possíveis e estratégias para maximizar os benefícios e mitigar os prejuízos causados por esses ambientes virtuais【4】【17】.

 

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com o objetivo de sintetizar os conhecimentos disponíveis sobre os impactos das redes sociais no comportamento e bem-estar, especificamente no campo da psicologia social. A revisão integrativa permite a análise crítica de diferentes abordagens metodológicas, proporcionando uma visão ampla e aprofundada sobre o tema abordado【10】. O processo seguiu as etapas sistemáticas recomendadas por Whittemore e Knafl (2005), que incluem a formulação do problema, a busca e seleção de literatura, a avaliação dos estudos incluídos, a análise e a síntese dos dados e, finalmente, a apresentação dos resultados【13】.

  1. Formulação do Problema

O problema de pesquisa foi delineado com a seguinte pergunta orientadora: Como as redes sociais influenciam o comportamento e o bem-estar psicológico dos indivíduos em diferentes contextos sociais? Esta questão guiou todo o processo de busca e seleção dos artigos, permitindo que se mantivesse um foco claro e consistente durante a revisão【14】【17】.

  1. Critérios de Inclusão e Exclusão

Para garantir a relevância e a qualidade dos estudos analisados, foram definidos critérios específicos de inclusão e exclusão. Foram incluídos artigos:

  • Publicados entre 2014 e 2024 para abranger uma década de publicações relevantes e atualizadas;
  • Indexados em bases de dados científicas como PubMed, SciELO, Web of Science, PsycInfo e Lilacs【15】【17】;
  • Disponíveis em português, inglês e espanhol, considerando a abrangência global e a acessibilidade dos temas discutidos;
  • Que abordavam a influência das redes sociais no comportamento e bem-estar psicológico de forma direta, em populações diversas (adolescentes, adultos e idosos).

Foram excluídos estudos que:

  • Não apresentavam delineamento metodológico claro ou rigor científico suficiente;
  • Eram revisões sistemáticas sem foco em psicologia social;
  • Artigos duplicados encontrados em mais de uma base de dados.
  1. Procedimento de Busca

A busca foi realizada entre agosto e setembro de 2024, utilizando os descritores “Social Media”, “Mental Health”, “Social Behavior”, e “Psychosocial Impact”, combinados com operadores booleanos (AND, OR) para refinar os resultados e assegurar que os artigos fossem relevantes para o escopo deste estudo【18】. Os descritores também foram traduzidos e utilizados em suas versões em português e espanhol para garantir a inclusão de estudos em múltiplos idiomas e maximizar a abrangência da coleta.

  1. Seleção e Avaliação dos Estudos

A seleção dos artigos seguiu um processo de triagem em duas etapas:

  • Etapa 1: Triagem de Títulos e Resumos
    Nesta fase, foram revisados os títulos e resumos de aproximadamente 78 artigos, buscando-se identificar aqueles que se enquadravam nos critérios de inclusão. Foram selecionados 55 artigos para a etapa seguinte, que envolveu uma leitura mais detalhada e criteriosa【12】【16】.
  • Etapa 2: Leitura Completa e Avaliação Crítica
    Os artigos selecionados passaram por uma leitura completa para avaliação crítica, utilizando a ferramenta PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) como guia para garantir a transparência e a qualidade da seleção e análise dos estudos【13】. Após essa etapa, foram incluídos 18 artigos que melhor atenderam aos critérios e que possuíam delineamento metodológico claro e dados pertinentes à pesquisa.
  1. Extração e Análise dos Dados

Os dados foram extraídos dos artigos selecionados por meio de uma matriz de síntese que incluía informações como: título, autores, ano de publicação, objetivos do estudo, metodologia utilizada, principais resultados e conclusões. A análise dos dados seguiu a abordagem de conteúdo, focando em identificar padrões, similaridades e divergências entre os estudos revisados【11】【16】.

Os estudos foram agrupados em categorias temáticas, considerando as principais variáveis analisadas e os contextos sociais explorados (como saúde mental de adolescentes, impacto em adultos e influências no comportamento social em ambientes coletivos). Essa organização permitiu uma síntese mais precisa dos resultados, além de proporcionar uma análise crítica sobre a diversidade de abordagens utilizadas na investigação dos impactos das redes sociais【13】.

  1. Síntese e Apresentação dos Resultados

Os resultados foram apresentados em uma estrutura que abrangeu as diferentes dimensões identificadas nos estudos, permitindo uma visão integrada sobre os impactos das redes sociais no comportamento e no bem-estar psicológico dos indivíduos. Além disso, os estudos foram comparados entre si para identificar lacunas e oportunidades de futuras pesquisas, garantindo uma contribuição significativa ao campo da psicologia social【12】【14】.

 

RESULTADOS

A revisão integrativa dos estudos selecionados revelou um espectro complexo de impactos das redes sociais sobre o comportamento e o bem-estar psicológico, variando conforme a faixa etária e o contexto social dos indivíduos. Esses impactos foram agrupados em três categorias principais para facilitar a compreensão e a síntese das informações: 1) saúde mental dos adolescentes, 2) autoimagem e comportamento social dos adultos, e 3) intervenções psicossociais mediadas pelas redes sociais. A categorização visa não apenas organizar os achados, mas também evidenciar as nuances e particularidades de cada grupo populacional.

Os resultados são apresentados na Tabela 1, que resume os efeitos identificados e as intervenções aplicadas em cada categoria, com as respectivas referências para assegurar rigor científico e validar as conclusões. Essa estrutura permite uma visualização clara e integrada dos achados, facilitando a interpretação e análise crítica dos dados coletados.

Tabela 1: Impactos e Intervenções Mediadas pelas Redes Sociais com Referências

Categoria População Achados Principais Referências
Saúde Mental de Adolescentes Adolescentes Aumento de ansiedade, depressão e transtornos alimentares relacionados ao uso excessivo de redes sociais. [2], [6], [14], [17]
Autoimagem e Comportamento Adultos Sintomas depressivos, polarização, discurso de ódio e impacto negativo na autoimagem e isolamento social. [3], [5], [11]
Intervenções Psicossociais Pacientes com transtornos mentais Uso de redes sociais para mobilização de apoio e promoção de práticas saudáveis, melhorando adesão ao tratamento. [8], [13], [16]

 

A Tabela 1 evidencia a complexidade dos efeitos das redes sociais, demonstrando que seu impacto é multifacetado e varia significativamente de acordo com a população estudada e o contexto específico. Nos adolescentes, por exemplo, as redes sociais emergem como um ambiente de alto risco para a saúde mental, dado o uso intensivo e desregulado dessas plataformas por essa faixa etária. Estudos mostraram que a exposição contínua a comparações sociais e a interações online, muitas vezes hostis, cria um ambiente propício para o desenvolvimento de transtornos como ansiedade, depressão e transtornos alimentares【2】【6】【17】. Esse achado reforça a importância de intervenções preventivas focadas em educação digital, sugerindo que, sem orientação e regulação adequadas, os adolescentes permanecem expostos a riscos psicológicos substanciais【14】.

No grupo adulto, os resultados também são alarmantes. Os achados indicam que, embora adultos possuam maior autonomia e controle sobre o uso das redes sociais, a influência negativa dessas plataformas ainda é significativa. Observou-se que o uso intensivo está associado a sentimentos de isolamento social e insatisfação com a própria imagem corporal, exacerbados por interações negativas e conteúdos polarizadores【3】【5】. A polarização e o discurso de ódio online foram identificados como fatores que não apenas afetam a saúde mental individual, mas também fragmentam o tecido social, criando ambientes virtuais que reforçam divisões e preconceitos【11】. Isso sugere a necessidade de estratégias de moderação mais efetivas por parte das plataformas e políticas públicas que abordem o discurso de ódio e o impacto social das redes de maneira mais direta e eficaz.

Por outro lado, os resultados apontam também para o potencial positivo das redes sociais quando utilizadas em contextos terapêuticos e de promoção de saúde. Nos estudos analisados, cinco artigos exploraram intervenções mediadas por redes sociais que se mostraram eficazes na mobilização de apoio social e no fortalecimento de conexões interpessoais e interinstitucionais em contextos de saúde mental e atenção primária【8】【13】. A aplicação de estratégias como a disseminação de informações sobre autocuidado e o uso de redes para conectar pacientes a grupos de suporte, por exemplo, contribuiu significativamente para a adesão ao tratamento e para a recuperação de indivíduos com transtornos mentais【16】. Esses achados ressaltam o potencial das redes sociais como ferramentas valiosas em programas de intervenção psicossocial, desde que adequadamente estruturadas e supervisionadas por profissionais capacitados.

Em síntese, os dados revelam que as redes sociais possuem uma dualidade inerente: podem ser fontes de risco e vulnerabilidade, mas também de apoio e intervenção quando geridas de forma adequada. Os estudos indicam que, para maximizar os benefícios e mitigar os prejuízos, é crucial desenvolver estratégias educativas e políticas de regulação que promovam o uso consciente e saudável das redes sociais em todas as faixas etárias e contextos sociais.

 

DISCUSSÃO

Os resultados desta revisão integrativa confirmam que as redes sociais são ferramentas de influência poderosa e multifacetada sobre o comportamento e o bem-estar psicológico de diferentes grupos populacionais. Em particular, adolescentes e adultos, que representam a maioria dos usuários dessas plataformas, são impactados de maneira diversa, destacando a importância de uma abordagem contextualizada para compreender e intervir nos efeitos dessas tecnologias.

  1. Impactos na Saúde Mental dos Adolescentes

Os achados referentes aos adolescentes indicam um cenário alarmante, onde o uso excessivo de redes sociais está diretamente associado a uma série de transtornos mentais, como ansiedade, depressão e transtornos alimentares【2】【6】【14】【17】. A internalização de padrões de beleza idealizados e a pressão para obter validação online, frequentemente intensificadas por algoritmos que promovem conteúdo altamente engajador e esteticamente padronizado, são fatores cruciais na gênese desses problemas【14】.

Esse padrão é consistente com outros estudos que apontam para o aumento significativo de transtornos mentais entre adolescentes que passam longos períodos conectados às redes sociais. A literatura científica sugere que, além dos efeitos diretos das comparações sociais, o fenômeno do “fear of missing out” (FOMO) também desempenha um papel importante na geração de estresse e ansiedade em jovens【5】. Essas observações reforçam a necessidade urgente de políticas educativas voltadas para o uso consciente das redes, além de intervenções específicas que abordem os impactos psicossociais dessas plataformas na formação identitária dos adolescentes.

  1. Influências nas Dinâmicas Sociais e Autoimagem dos Adultos

Os resultados revelam que, embora adultos possuam maior capacidade de autorregulação e resiliência, eles também sofrem os efeitos negativos das redes sociais. Estudos analisados destacam que as redes intensificam sentimentos de solidão, depressão e insatisfação com a imagem corporal, especialmente quando a exposição a conteúdos polarizadores e idealizados é frequente【3】【5】.

A polarização e o discurso de ódio foram identificados como fatores que não apenas prejudicam a saúde mental individual, mas também afetam a coesão social. Esse fenômeno é amplamente discutido na literatura, que demonstra como as redes sociais amplificam tensões e divisões, exacerbando preconceitos e comportamentos agressivos online【11】. Este achado é crítico para entender a formação de “câmaras de eco” nas plataformas digitais, onde a exposição contínua a opiniões semelhantes reforça crenças extremas e polarizadas, dificultando o diálogo social e aumentando a fragmentação comunitária.

Esses resultados sublinham a necessidade de intervenções que não se limitem ao indivíduo, mas que também abordem as plataformas em si e seus algoritmos de amplificação. A implementação de estratégias mais eficazes de moderação de conteúdo e a promoção de campanhas para conscientizar os usuários sobre os riscos de interações polarizadas são passos fundamentais para mitigar esses efeitos adversos.

  1. Potencial Positivo das Redes Sociais em Intervenções Psicossociais

Apesar dos riscos evidentes, a revisão também aponta para o potencial das redes sociais como ferramentas de suporte e intervenção psicossocial. Os estudos analisados mostram que, quando adequadamente estruturadas e mediadas por profissionais, as plataformas digitais podem atuar como catalisadoras de apoio social e adesão ao tratamento【8】【13】. Em contextos de saúde mental e atenção primária, as redes sociais têm sido utilizadas para conectar pacientes a redes de apoio formais e informais, contribuindo para melhores resultados terapêuticos【16】.

Esses achados estão em consonância com a literatura existente, que destaca como a integração de tecnologias digitais nos programas de saúde pode ampliar o alcance e a eficácia das intervenções. A criação de grupos online de apoio e o uso de aplicativos que fornecem informações sobre autocuidado e estratégias de enfrentamento são exemplos de como as redes podem ser aproveitadas positivamente【8】. No entanto, é essencial que tais iniciativas sejam monitoradas e avaliadas continuamente para garantir a segurança e a privacidade dos usuários, além de evitar a desinformação.

Implicações Práticas e Direções Futuras

Os resultados desta revisão reforçam a necessidade de políticas públicas e intervenções educativas voltadas para o uso consciente das redes sociais. No caso dos adolescentes, programas de educação digital que ensinem sobre os riscos associados às comparações sociais e ao uso excessivo das redes são fundamentais. Além disso, é importante envolver pais e educadores, promovendo um ambiente que apoie o desenvolvimento saudável da autoimagem e do bem-estar psicológico dos jovens.

Para adultos, as estratégias devem focar na promoção de um uso mais crítico e consciente das plataformas, incentivando a diversificação de fontes de informação e a prática de desconexão digital para reduzir os impactos na saúde mental. Além disso, as plataformas precisam ser responsabilizadas por seus algoritmos e conteúdos amplificados, exigindo a criação de mecanismos mais robustos de moderação e combate ao discurso de ódio.

No que se refere às intervenções psicossociais, é crucial expandir as pesquisas que avaliam a eficácia de programas digitais e grupos de apoio mediado por redes sociais. Estudos longitudinais que investiguem o impacto dessas intervenções ao longo do tempo são necessários para consolidar o uso seguro e eficaz das redes sociais em contextos de saúde.

Limitações da Revisão

É importante destacar que esta revisão possui algumas limitações inerentes ao método adotado. A seleção de artigos foi restrita a publicações indexadas em bases de dados específicas e a estudos em português, inglês e espanhol, o que pode ter excluído literatura relevante publicada em outros idiomas ou em bases de menor alcance. Além disso, a natureza dos estudos analisados, predominantemente de abordagem qualitativa ou observacional, limita a generalização dos resultados. Futuras revisões sistemáticas que incluam estudos quantitativos e experimentais são recomendadas para reforçar as evidências aqui discutidas.

CONCLUSÃO

Esta revisão integrativa demonstrou que as redes sociais exercem uma influência profunda e multifacetada sobre o comportamento e o bem-estar psicológico de diferentes grupos populacionais, principalmente adolescentes e adultos. Os resultados evidenciam que, enquanto as redes sociais podem atuar como importantes ferramentas de conexão e apoio social, elas também apresentam riscos significativos quando utilizadas de maneira desregulada e sem a devida orientação.

Entre os adolescentes, o uso excessivo e a exposição a conteúdos idealizados e comparações sociais emergem como fatores críticos na gênese de transtornos mentais, como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. A vulnerabilidade desse grupo etário e a facilidade de acesso às redes sociais reforçam a urgência de políticas educativas e preventivas que abordem o uso consciente e seguro dessas plataformas. Programas de educação digital, que envolvam pais, educadores e adolescentes, são essenciais para criar uma cultura de responsabilidade e autocuidado digital.

Para os adultos, os resultados mostram que, embora possuam maior autonomia no uso das redes sociais, os impactos ainda são substanciais, especialmente em termos de isolamento social, depressão e polarização. A proliferação do discurso de ódio e a intensificação de tensões sociais são fenômenos que exigem atenção urgente por parte das plataformas e dos formuladores de políticas públicas. O monitoramento rigoroso e a criação de mecanismos eficazes de moderação são passos fundamentais para mitigar os efeitos negativos das redes sobre a saúde mental e a coesão social.

Por outro lado, as redes sociais, quando adequadamente estruturadas, demonstram potencial significativo como ferramentas de intervenção psicossocial. Os estudos analisados indicam que, em contextos terapêuticos e de saúde, o uso de plataformas digitais para conectar pacientes a grupos de apoio e disseminar informações sobre autocuidado pode ser benéfico. O desenvolvimento de aplicativos e grupos virtuais monitorados por profissionais capacitados apresenta uma oportunidade promissora para expandir o alcance e a eficácia de programas de saúde mental e atenção primária.

Contudo, para maximizar os benefícios das redes sociais e mitigar seus riscos, é crucial uma abordagem integrada que envolva esforços multidimensionais. Isso inclui educação, regulação, desenvolvimento de tecnologias seguras e pesquisas contínuas. É necessário que as plataformas digitais assumam um papel ativo na promoção de um ambiente seguro e saudável para os usuários, implementando algoritmos que priorizem conteúdos educativos e inclusivos, além de práticas que incentivem o engajamento saudável.

Em termos de direções futuras, pesquisas quantitativas e experimentais são necessárias para avaliar de forma mais robusta os efeitos a longo prazo das intervenções mediadas por redes sociais. Além disso, estudos que explorem a eficácia de diferentes abordagens educativas em populações diversificadas são essenciais para construir bases sólidas para o desenvolvimento de políticas públicas e programas de saúde digital.

Em síntese, embora as redes sociais ofereçam um potencial transformador em termos de conectividade e intervenção, é fundamental que seu uso seja acompanhado de estratégias de regulação e educação para garantir que seus efeitos positivos sejam maximizados, e os negativos, minimizados. A promoção de um uso consciente e a criação de ambientes digitais saudáveis são responsabilidades coletivas, que envolvem desde formuladores de políticas até usuários e plataformas digitais.

 

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