
Vaccines and Immunotherapies: New Approaches in Clinical Immunology – An Integrative Review
Michel Santos de Abreu1, Inaiara Maireno Inacio Cardoso2, José Songlei da Silva Rocha3
Endereço correspondente: libritannia.ms@gmail.com
Publicação: 23/05/2025
DOI: 10.55703/27644006050111
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RESUMO
O avanço das vacinas e imunoterapias nas últimas décadas transformou profundamente o campo da imunologia clínica. Este estudo teve como objetivo investigar os avanços mais recentes em vacinas tradicionais, vacinas modernas (como mRNA e vetores virais) e imunoterapias aplicadas ao câncer, doenças autoimunes e infecciosas. Trata-se de uma revisão integrativa, com busca sistemática realizada nas bases PubMed, Scopus, Web of Science e SciELO, considerando publicações entre 2015 e 2025, nos idiomas português e inglês. Foram selecionados 22 artigos que atendiam aos critérios de inclusão. Os resultados revelaram que as vacinas de mRNA apresentaram alta eficácia e segurança, com aplicações além da COVID-19. As vacinas de vetores virais mostraram boa resposta imunológica, especialmente em contextos emergenciais. A imunoterapia oncológica destacou-se pelo uso de CAR-T cells e bloqueadores de checkpoint, com ganhos significativos de sobrevida. Em doenças autoimunes e infecciosas, os estudos apontam aplicações terapêuticas inovadoras, ainda em expansão. Conclui-se que vacinas e imunoterapias representam uma nova era da medicina personalizada, embora desafios como custo, acesso e regulação ainda precisem ser superados.
Palavras-chave: Vacinas de mRNA; Imunoterapia; Vacinas tradicionais; Câncer; Doenças autoimunes; Doenças infecciosas.
ABSTRACT
The advancement of vaccines and immunotherapies in recent decades has profoundly transformed the field of clinical immunology. This study aimed to investigate the latest developments in traditional vaccines, modern vaccines (such as mRNA and viral vectors), and immunotherapies applied to cancer, autoimmune, and infectious diseases. This is an integrative review, with a systematic search conducted in PubMed, Scopus, Web of Science, and SciELO databases, covering publications from 2015 to 2025, in Portuguese and English. A total of 22 articles meeting the inclusion criteria were selected. The results showed that mRNA vaccines demonstrated high efficacy and safety, with applications beyond COVID-19. Viral vector vaccines showed strong immunological responses, particularly in emergency contexts. Cancer immunotherapy stood out through the use of CAR-T cells and checkpoint inhibitors, contributing to improved survival rates. In autoimmune and infectious diseases, the studies revealed promising, though still evolving, therapeutic approaches. It is concluded that vaccines and immunotherapies represent a new era of personalized medicine, although challenges such as cost, access, and regulation remain to be addressed.
Keywords: mRNA vaccines; Immunotherapy; Traditional vaccines; Cancer; Autoimmune diseases; Infectious diseases.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, o campo da imunologia clínica tem avançado de maneira significativa, impulsionado por descobertas científicas e pelo desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas à saúde humana. Vacinas e imunoterapias têm se consolidado como estratégias fundamentais não apenas para a prevenção de doenças infecciosas, mas também como abordagens terapêuticas inovadoras no tratamento de doenças crônicas, autoimunes e neoplásicas.
As vacinas tradicionais, como as baseadas em vírus inativados ou atenuados, proteínas recombinantes e toxoides, contribuíram de forma decisiva para a erradicação e controle de doenças como poliomielite, sarampo e hepatite B. Contudo, o surgimento de novas ameaças, como o SARS-CoV-2, evidenciou a necessidade de soluções mais rápidas, escaláveis e adaptáveis. Neste cenário, as vacinas baseadas em RNA mensageiro (mRNA) e vetores virais ganharam destaque por sua eficácia, segurança e agilidade de desenvolvimento, como demonstrado pelas vacinas BNT162b2 e mRNA-1273, amplamente utilizadas durante a pandemia de COVID-19.
As vacinas de mRNA representam um novo paradigma na imunização. Elas funcionam instruindo as células do hospedeiro a produzir proteínas virais que desencadeiam uma resposta imune robusta, como observado por Pardi et al. [1] e confirmado por Sahin et al. [2], que relataram respostas humorais e celulares intensas, especialmente do tipo Th1. Baden et al. [3] e Polack et al. [4] demonstraram que essas vacinas apresentaram eficácia superior a 90% na prevenção da COVID-19, com perfil de segurança favorável. Além disso, Barouch [5] destacou a necessidade de reforços vacinais e vigilância contínua devido ao surgimento de variantes virais.
Paralelamente ao desenvolvimento vacinal, as imunoterapias têm se destacado como uma revolução no tratamento de doenças como câncer e autoimunidades. A imunoterapia oncológica, especialmente por meio de anticorpos monoclonais, inibidores de checkpoint imunológico (como PD-1/PD-L1) e células CAR-T, demonstrou resultados promissores em diversos tipos de câncer, inclusive aqueles refratários a quimioterapia tradicional [6–9]. Segundo Ribas e Wolchok [7], a inibição de pontos de controle do sistema imune permite a reativação de respostas antitumorais, aumentando as taxas de resposta completa. Já June et al. [8] destacam o potencial transformador das terapias com células T geneticamente modificadas.
No contexto das doenças autoimunes, a imunoterapia busca modular a resposta imune de forma precisa, evitando a destruição tecidual sem comprometer a imunidade protetora. Fischer et al. [10] relatam avanços no uso de citocinas moduladoras e células T reguladoras no tratamento de lúpus e artrite reumatoide. Do mesmo modo, Banchereau e Pascual [11] enfatizam o papel do interferon tipo I como biomarcador e alvo terapêutico em doenças autoimunes sistêmicas.
Por fim, no enfrentamento das doenças infecciosas crônicas, como HIV e hepatites virais, a imunoterapia tem surgido como uma estratégia complementar promissora. Estudos recentes sugerem que intervenções baseadas em anticorpos neutralizantes e vacinas terapêuticas podem melhorar significativamente o controle viral e a qualidade de vida dos pacientes [20, 25].
Todos esses avanços são resultado direto da incorporação da biotecnologia no desenvolvimento de plataformas imunológicas mais eficazes, seguras e personalizadas. O conhecimento acumulado e as tecnologias emergentes têm impulsionado a criação de vacinas e imunoterapias que representam um novo horizonte na medicina de precisão, com potencial de transformar a prática clínica e a saúde pública global [15, 18, 19].
Diante desse cenário, torna-se essencial revisar e integrar os principais achados científicos sobre essas abordagens, com vistas a compreender seus benefícios, limitações e perspectivas futuras. Essa revisão integrativa visa justamente reunir e analisar criticamente os dados mais recentes da literatura sobre vacinas tradicionais, vacinas modernas (como mRNA e vetores virais), e imunoterapias aplicadas a diferentes contextos clínicos.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cujo propósito é reunir e analisar criticamente estudos científicos relevantes sobre os avanços em vacinas tradicionais, vacinas modernas (como as de mRNA e vetores virais) e imunoterapias aplicadas ao tratamento de câncer, doenças autoimunes e infecciosas. Esse tipo de revisão permite uma abordagem ampla, reunindo diferentes metodologias e perspectivas, o que é particularmente útil quando se busca compreender o estado atual do conhecimento sobre um tema complexo e multifacetado como a imunologia clínica.
A busca foi realizada entre abril e maio de 2025, nas bases de dados científicas PubMed/MEDLINE, Scopus, Web of Science e SciELO. Essas plataformas foram escolhidas por sua relevância e abrangência em artigos biomédicos indexados. Os descritores utilizados foram baseados no vocabulário controlado DeCS/MeSH, combinados com operadores booleanos para garantir uma busca precisa e abrangente. Entre os principais termos utilizados, destacam-se: “vacinas tradicionais”, “vacinas de mRNA”, “vacinas de vetores virais”, “imunoterapia”, “câncer”, “doenças autoimunes” e “doenças infecciosas”, tanto em português quanto em inglês.
Foram considerados elegíveis os artigos publicados entre janeiro de 2015 e maio de 2025, nos idiomas inglês e português, que estivessem disponíveis na íntegra e que abordassem, com base científica, inovações, resultados ou discussões sobre vacinas e imunoterapias. Foram incluídos estudos originais, revisões sistemáticas, revisões integrativas e meta-análises. Por outro lado, foram excluídos trabalhos duplicados, editoriais, cartas ao editor, resumos de eventos científicos e estudos com baixo rigor metodológico ou que não apresentassem dados diretamente relacionados ao objetivo desta revisão.
A seleção dos estudos foi realizada em três etapas: inicialmente, por meio da leitura dos títulos, eliminando-se aqueles que não se alinhavam ao tema proposto. Em seguida, procedeu-se à leitura dos resumos para a triagem dos artigos com maior potencial de inclusão. Por fim, os textos completos dos estudos pré-selecionados foram analisados, aplicando-se rigorosamente os critérios de inclusão e exclusão. Todo o processo foi realizado por dois pesquisadores de forma independente, e eventuais divergências foram resolvidas por consenso após nova análise.
Ao final, foram selecionados 25 artigos científicos que atenderam a todos os critérios estabelecidos. Os dados extraídos foram organizados em um quadro de síntese, contendo informações como autor, ano de publicação, base de dados, objetivo do estudo e principais achados. Essa organização permitiu uma análise crítica estruturada dos conteúdos, possibilitando a identificação de tendências, contribuições relevantes, lacunas existentes na literatura e perspectivas futuras.
RESULTADOS
A análise dos estudos selecionados revelou avanços relevantes e multidimensionais no campo da imunologia clínica, particularmente no desenvolvimento de vacinas (tradicionais e modernas) e imunoterapias voltadas a diferentes perfis patológicos. Os artigos foram agrupados por temas centrais, conforme o foco principal de cada publicação. A Tabela 1 apresenta a distribuição dos estudos por categoria temática, seguida da análise detalhada.
Tabela 1 – Resumo temático dos estudos incluídos
Categoria | Nº de Estudos | Principais Achados |
Vacinas Tradicionais | 5 | Melhorias em adjuvantes, cobertura vacinal e resposta imune adaptativa aprimorada. |
Vacinas de mRNA | 6 | Alta eficácia, produção rápida e segurança clínica, especialmente para COVID-19. |
Vacinas de Vetores Virais | 3 | Efetividade em múltiplas plataformas, com potencial para doenças emergentes. |
Imunoterapia no Câncer | 7 | Uso de CAR-T, anticorpos monoclonais e checkpoint inhibitors com aumento da sobrevida. |
Imunoterapia em Doenças Autoimunes | 2 | Aplicações com citocinas e células reguladoras, com menor toxicidade. |
Imunoterapia em Doenças Infecciosas | 2 | Perspectivas de uso em HIV e hepatites com melhora clínica inicial observada. |
Vacinas Tradicionais: aprimoramentos em eficácia e alcance populacional
Cinco estudos abordaram inovações nas vacinas tradicionais, sobretudo na formulação de novos adjuvantes, estratégias de multidosagem e ampliação da cobertura vacinal. Silva Júnior et al. [15] discutem a incorporação de novas técnicas de purificação e estabilização de antígenos, que aumentam a eficácia imunológica e a estabilidade em regiões com infraestrutura limitada. Ferreira et al. [19] destacam a introdução de plataformas recombinantes, utilizadas para substituir técnicas clássicas em doenças como hepatite B e HPV. Esses estudos apontam uma continuidade nas vacinas de base tradicional, porém com melhorias aplicadas pela biotecnologia moderna, reduzindo falhas imunológicas e aumentando a cobertura em populações vulneráveis.
Vacinas de mRNA: a inovação que revolucionou a vacinação global
Seis estudos enfatizaram o papel transformador das vacinas de mRNA, especialmente após a pandemia da COVID-19. Pardi et al. [1] e Sahin et al. [2] explicam como a tecnologia de mRNA permitiu o desenvolvimento acelerado de vacinas altamente imunogênicas, com respostas celulares e humorais consistentes, sobretudo do tipo Th1. Baden et al. [3] demonstraram que a vacina mRNA-1273 (Moderna) apresentou eficácia clínica de 94,1%, enquanto Polack et al. [4] relataram eficácia de 95% para a BNT162b2 (Pfizer-BioNTech), ambas com perfis de segurança amplamente satisfatórios. Fernandes et al. [18] reforçam que esta plataforma pode ser aplicada para doenças além da COVID-19, como câncer, zika e HIV, demonstrando adaptabilidade e potencial para futuras campanhas globais de imunização.
Vacinas de vetores virais: imunidade celular robusta e uso emergencial
Três estudos focaram nas vacinas de vetores virais, destacando sua capacidade de induzir forte resposta imune celular. Barouch [5] relata a eficácia da vacina de vetor adenoviral contra COVID-19 (Ad26.COV2.S), que também demonstrou respostas CD8+ sustentadas. Zhou et al. [24], em um estudo pioneiro, apresentaram dados genômicos fundamentais para o desenvolvimento da vacina da Oxford/AstraZeneca (ChAdOx1), que mostrou boa eficácia e baixo custo, especialmente em países de baixa e média renda. Jiang et al. [25] enfatizam ainda o papel dos vetores virais em vacinas terapêuticas para doenças infecciosas persistentes, sugerindo usos além da imunização preventiva.
Imunoterapia no câncer: das terapias direcionadas à medicina personalizada
Sete estudos abordaram a imunoterapia como tratamento antineoplásico, com destaque para três estratégias principais: anticorpos monoclonais, bloqueadores de checkpoint imunológico e células CAR-T. Ribas e Wolchok [7] demonstraram que a inibição de PD-1 e CTLA-4 resulta em aumento da sobrevida global em cânceres metastáticos, como melanoma e câncer de pulmão. June et al. [8] abordaram o sucesso clínico das células CAR-T em leucemias e linfomas B, com remissões completas observadas em pacientes refratários. Ledford [6] destacou os avanços em vacinas personalizadas baseadas em neoantígenos tumorais, uma abordagem emergente que utiliza sequenciamento genético para desenvolvimento individualizado de vacinas.
Imunoterapia em doenças autoimunes: modulação seletiva da resposta imune
Dois estudos demonstraram progressos no uso de imunoterapia para doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide. Fischer et al. [10] apresentaram o uso de citocinas moduladoras e inibidores específicos da via de interferon, enquanto Banchereau e Pascual [11] descreveram a relevância do interferon tipo I como biomarcador e alvo terapêutico. Ambas as abordagens apontam para uma modulação seletiva da imunidade, que busca minimizar a inflamação sem comprometer a vigilância imunológica, algo essencial em pacientes imunossuprimidos.
Imunoterapia em doenças infecciosas: novas possibilidades para infecções persistentes
Dois artigos discutiram o uso de imunoterapias em doenças infecciosas crônicas, como HIV e hepatites virais. Arruda e Pereira [20] relataram resultados promissores com o uso de anticorpos monoclonais em indivíduos vivendo com HIV, permitindo melhor controle da carga viral e redução da progressão da doença. Jiang et al. [25] abordaram os inibidores de fusão viral e os anticorpos neutralizantes como terapias promissoras contra o SARS-CoV-2 e variantes emergentes, principalmente em pacientes imunocomprometidos.
Esses resultados demonstram a evolução constante da imunologia clínica e o impacto da biotecnologia na transformação das estratégias imunológicas. As vacinas modernas e as imunoterapias analisadas se destacam não apenas pela eficácia, mas pela capacidade de personalização, velocidade de desenvolvimento e potencial de integração à medicina de precisão. Ao mesmo tempo, os estudos apontam a necessidade de superar desafios relacionados à produção em larga escala, regulação, custos e equidade no acesso global às inovações.
DISCUSSÃO
Os resultados desta revisão integrativa evidenciam um cenário de profunda transformação no campo da imunologia clínica, marcado pelo avanço de plataformas tecnológicas aplicadas à prevenção e ao tratamento de doenças. A evolução das vacinas tradicionais para modelos altamente inovadores, como as vacinas de mRNA e de vetores virais, juntamente com a expansão das imunoterapias, revela uma convergência entre a biotecnologia, a medicina personalizada e a prática clínica baseada em evidências.
As vacinas tradicionais, embora menos exploradas nos estudos mais recentes, seguem sendo ferramentas indispensáveis para o controle de doenças endêmicas e epidêmicas. Os estudos de Silva Júnior et al. [15] e Ferreira et al. [19] demonstram que os aprimoramentos em adjuvantes, estabilidade antigênica e estratégias de cobertura vacinal têm mantido sua relevância, especialmente em regiões com menor acesso às tecnologias de última geração. No entanto, a transição para plataformas mais modernas é cada vez mais necessária para enfrentar os desafios impostos por agentes infecciosos emergentes e variantes virais.
Nesse contexto, as vacinas de mRNA representaram a principal inovação da última década, consolidando-se como o novo paradigma da imunização. Estudos como os de Pardi et al. [1], Sahin et al. [2] e Baden et al. [3] não apenas demonstraram sua eficácia superior em relação a vacinas convencionais, mas também comprovaram sua segurança e rapidez de desenvolvimento. A possibilidade de adaptar rapidamente essas vacinas frente a novas variantes — como evidenciado por Barouch [5] — oferece uma vantagem estratégica sem precedentes. Além disso, Fernandes et al. [18] ressaltam o potencial uso dessa tecnologia em doenças para as quais ainda não há vacinas eficazes, como HIV, dengue e certos tipos de câncer, o que abre espaço para pesquisas translacionais em grande escala.
Já as vacinas de vetores virais se mostraram eficazes, especialmente durante a pandemia de COVID-19, sendo fundamentais para ampliar o acesso global à imunização. Sua aplicação em campanhas emergenciais foi decisiva, como relatado por Zhou et al. [24], mas também levantou debates sobre reações adversas raras, como trombocitopenia induzida por vacina, apontadas por algumas análises clínicas subsequentes. Isso reforça a importância de estudos contínuos de farmacovigilância e reavaliação de custo-benefício por faixa populacional.
As imunoterapias oncológicas constituem um dos campos mais dinâmicos da medicina moderna. As evidências compiladas por Ribas e Wolchok [7], June et al. [8] e Ledford [6] indicam que abordagens como inibidores de checkpoint, terapias com CAR-T cells e vacinas antitumorais individualizadas não apenas melhoram as taxas de resposta clínica, mas também prolongam a sobrevida em pacientes com tumores refratários. Apesar de seus benefícios, essas terapias ainda enfrentam desafios significativos em termos de custo, logística de produção e manejo de efeitos colaterais imunomediados. Além disso, há uma lacuna importante na representatividade de populações diversas nos ensaios clínicos, o que pode limitar sua generalização.
No que diz respeito às doenças autoimunes, os estudos de Fischer et al. [10] e Banchereau e Pascual [11] revelam uma nova fronteira terapêutica baseada na modulação imunológica seletiva. Essas abordagens buscam restaurar o equilíbrio imunológico sem comprometer a imunidade protetora, sendo especialmente promissoras em doenças com curso crônico e refratário aos imunossupressores convencionais. No entanto, o número reduzido de estudos robustos indica a necessidade de mais ensaios clínicos randomizados para validar a eficácia dessas estratégias em longo prazo.
Já a imunoterapia aplicada às doenças infecciosas, como HIV e hepatites virais, encontra-se em estágio experimental, mas com perspectivas animadoras. Conforme apontado por Arruda e Pereira [20], o uso de anticorpos monoclonais neutralizantes pode reduzir significativamente a carga viral em indivíduos com resistência aos antirretrovirais tradicionais. Jiang et al. [25] reforçam que, no contexto da COVID-19, a imunoterapia tem atuado como recurso adjuvante, sobretudo em pacientes imunocomprometidos. No entanto, o custo elevado e a necessidade de administração parenteral ainda representam barreiras à aplicação em larga escala.
De maneira geral, a análise integrada dos estudos evidencia um momento de inflexão no tratamento e prevenção de doenças imunomediadas. As vacinas modernas e imunoterapias, ao mesmo tempo em que ampliam as possibilidades clínicas, exigem uma reorganização dos sistemas de saúde e dos protocolos regulatórios. A incorporação dessas tecnologias requer não apenas investimentos em infraestrutura e capacitação profissional, mas também políticas públicas que garantam o acesso equitativo a essas inovações, especialmente em países de baixa e média renda.
Por fim, destaca-se uma limitação intrínseca ao presente estudo: apesar da busca sistemática e criteriosa, a literatura disponível pode conter viés de publicação, especialmente no que diz respeito aos estudos mais recentes ainda em fase de pré-print ou com resultados não divulgados. Além disso, a heterogeneidade metodológica entre os estudos selecionados dificultou a realização de comparações quantitativas mais rigorosas.
Ainda assim, esta revisão integrativa oferece uma síntese atualizada e fundamentada sobre os avanços em vacinas e imunoterapias, contribuindo para o campo da biotecnologia clínica e sinalizando caminhos para pesquisas futuras e decisões estratégicas em saúde pública.
CONCLUSÃO
A presente revisão integrativa evidenciou que os avanços em vacinas e imunoterapias têm desempenhado um papel fundamental na transformação da imunologia clínica moderna. As vacinas tradicionais continuam sendo essenciais para o controle de doenças infecciosas, com melhorias em suas formulações e alcance populacional. No entanto, as plataformas emergentes — especialmente as vacinas de mRNA e de vetores virais — demonstraram ser ferramentas revolucionárias, com eficácia elevada, segurança clínica robusta e grande potencial de aplicação em diversos contextos patológicos, como observado durante a pandemia de COVID-19.
Paralelamente, a imunoterapia consolidou-se como uma das principais inovações terapêuticas da última década. No campo oncológico, terapias como inibidores de checkpoint imunológico, CAR-T cells e vacinas tumorais personalizadas proporcionaram novas possibilidades de tratamento para pacientes refratários, com impacto significativo na sobrevida e na qualidade de vida. Em doenças autoimunes e infecciosas, embora em estágio ainda inicial, as abordagens imunoterapêuticas mostraram-se promissoras, abrindo caminhos para intervenções mais específicas e com menor toxicidade.
Apesar dos avanços, os dados analisados também revelam desafios substanciais. Barreiras relacionadas ao custo, produção, distribuição equitativa e acesso às tecnologias mais avançadas ainda persistem, especialmente em países de baixa e média renda. Além disso, há necessidade de maior padronização metodológica nos estudos, ampliação da representatividade populacional nos ensaios clínicos e reforço das políticas públicas para integração dessas inovações à prática clínica.
Conclui-se, portanto, que vacinas e imunoterapias representam não apenas avanços científicos, mas também ferramentas estratégicas para a construção de uma medicina mais personalizada, preventiva e eficiente. O fortalecimento da pesquisa translacional, a incorporação tecnológica nos sistemas de saúde e a cooperação internacional serão essenciais para consolidar essas abordagens como pilares sustentáveis da saúde global.
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